Título: O médico e o coronel agora em campos opostos
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 21/04/2005, O Mundo, p. 27

Cardiologista, Palacio diz que país está `em coma¿

QUITO.Numa entrevista concedida ontem à imprensa estrangeira, o cardiologista Alberto Palacio disse que seu país se encontra ¿em estado de coma¿ e alertou sobre eventuais ¿mãos que tentem fazer uma eutanásia¿ no Equador.

¿ (Fazer uma eutanásia) seria sacrificar o povo para apoiar quem não deve ser apoiado ¿ disse Palacio.

Durante a campanha eleitoral de 2002, que Palacio e Gutiérrez fizeram juntos, o primeiro apresentava-se quase sempre vestido com um jaleco branco; o segundo, ex-coronel do Exército, com uma roupa verde-oliva, semelhante à de militares.

Palacio, de 66 anos, foi ministro da Saúde e exerceu a medicina durante mais de três décadas. Como médico, jamais cedeu à tentação de filiar-se a um partido político, nem mesmo ao criado por Gutiérrez depois de participar do golpe de Estado de janeiro de 2000. Talvez por isso tantos políticos tenham confiado seus corações às suas mãos: entre seus pacientes havia afiliados do Partido Social Cristão (PSC) e do Partido Roldosista Equatoriano (PRE), de que fez parte o ex-chefe de Estado Abdalá Bucaram, que fugiu do país.

Reconhecido por ser um dos mais destacados oficiais do Exército, Gutiérrez liderou um grupo de coronéis que apoiou o levante indígena de janeiro de 2000, que levou à queda do presidente Mahuad. Na ocasião, Gutiérrez disse que os militares obedeceram ¿à voz do povo¿. Fez parte, por algumas horas, de um governo militar, mas o alto comando das Forças Armadas o fez renunciar. Os militares empossaram o presidente Gustavo Noboa, Gutiérrez ficou preso por quatro meses em um quartel e acabou reformado.

Apesar disso, sua imagem saiu fortalecida e a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador, sindicalistas e partidos políticos de esquerda acabaram impulsionando sua campanha eleitoral. Como candidato, jurou ¿refundar o país¿ através do pagamento da dívida social e do combate à corrupção, e acabar com a pobreza, baseando-se em preceitos militares, como honra e ética. Foi eleito presidente ao derrotar o milionário Alvaro Noboa, em outubro de 2002, e, tão logo tomou posse, viajou aos EUA, onde se reuniu com representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de organismos de crédito multilaterais, o que provocou surpresa em seus aliados.