Título: BERLUSCONI RENUNCIA MAS DEVE TER NOVA CHANCE
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Fonte: O Globo, 21/04/2005, O Mundo, p. 28

Em meio à insatisfação popular com economia e a uma crise política, primeiro-ministro italiano refaz Gabinete

ROMA. Pressionado pela insatisfação da população com os rumos da economia, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, renunciou ontem, para logo em seguida anunciar a formação de um novo governo. O primeiro-ministro italiano, que cedeu às pressões de seus aliados de centro-direita para uma renovação do Gabinete, depois da derrota eleitoral no início do mês, disse que o novo governo vai implantar um programa renovado.

O presidente da Itália, Carlo Azeglio Ciampi, deve agora realizar uma série de conversações com os líderes partidários. Teoricamente Ciampi, como presidente, poderia escolher qualquer outra pessoa da coalizão majoritária para formar o governo ou mesmo convocar novas eleições imediatamente. No entanto, analistas acreditam que ele dará a Berlusconi um segundo mandato.

Romano Prodi, ex-presidente da Comissão Européia e líder do grupo de oposição A União, de centro-esquerda, definiu a renúncia do governo de Berlusconi como uma obrigação, depois que os próprios cidadãos mostraram nas urnas que perderam a confiança nele.

¿ Em 2001 os italianos confiaram a responsabilidade do governo à centro-direita e, após quatro anos, com seu voto, retiraram sua confiança ¿ disse Prodi aos jornalistas, referindo-se à derrota da coalizão governista nas eleições regionais de 3 e 4 de abril, onde a coalizão de Berlusconi, Forza Italia, perdeu em 11 das 13 regiões em que disputou.

Ao dirigir-se mais cedo ao Senado, Berlusconi admitiu que ao punir a maioria governante nas eleições regionais, duas semanas atrás, o país enviou um ¿sinal de desconforto¿ que ele não iria ignorar.

Para analistas, Berlusconi enfrentará novas crises

O primeiro-ministro italiano, no entanto, não deu muita atenção à crise interna que abalou sua coalizão na semana passada, depois que um dos quatro partidos que formam o governo retirou quatro ministros da coalizão e um segundo partido ameaçou fazer o mesmo. Em vez disso, Berlusconi reafirmou o seu direito de governar o país, baseado no mandato eleitoral.

O novo gabinete, ele acrescentou, ¿será reforçado¿, sugerindo que o novo governo não será um espelho do anterior. Segundo ele, o novo programa de governo defenderá o poder de compra das famílias, apoiará os negócios e garantirá o desenvolvimento do Sul do país.

Apesar do otimismo do primeiro-ministro, analistas políticos acreditam que Berlusconi terá dificuldade de levar adiante o novo governo até as eleições presidenciais do próximo ano.

¿ Basicamente há uma situação onde dentro da coalizão existem partidos com diferentes colorações e até mesmo com percepções e aspirações contraditórias ¿ disse Franco Pavoncello, professor de Ciências Políticas na Universidade de John Cabot, em Roma.

O discurso de Berlusconi repercutiu de forma diferente entre os senadores. A oposição não perdeu a oportunidade de expor as debilidades dele.

¿ Foi um discurso enganador e ilusório. Nenhuma análise séria sobre a renúncia, nenhuma indicação séria de como se pretender mudar o caminho. Não entendemos nada ¿ disse Piero Fassino, secretário do Democratas de Esquerda, partido da oposição.