Título: Menos violência
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Fonte: O Globo, 22/04/2005, Opinião, p. 6

Desde que foi lançada em meados do ano passado, a campanha pelo desarmamento retirou de circulação e destruiu pouco mais de 305 mil armas. Mesmo assim ainda há muita incompreensão sobre o tema. Talvez o principal mal-entendido seja a relação direta, mecânica feita entre o desarmamento da população e a queda nos índices de violência relacionados à criminalidade.

Na verdade, cobra-se da campanha o que ela não pode gerar: a redução imediata da ação das quadrilhas organizadas de traficantes e bandidos em geral.

Esquece-se que esse problema cabe especificamente às forças de segurança pública enfrentar e resolver.

Já a supressão de armas que se encontram guardadas ¿ muitas vezes de forma inadequada ¿ em residências, ou que circulam perigosamente com cidadãos comuns, é capaz de eliminar outras causas nada desprezíveis de tragédias: disparos acidentais, homicídios em brigas de trânsito, em rixas entre vizinhos, etc. Corta-se, também, uma fonte de suprimento de criminosos, pois muitas armas adquiridas para defesa pessoal e patrimonial terminam caindo nas mãos de marginais por roubo ou em tentativas frustradas de o cidadão enfrentar de igual para igual profissionais no manejo de revólveres e pistolas.

Estima-se que o número de armas furtadas, de 2003 para 2004, caiu de 40 mil ao ano para 15 mil, como reflexo da campanha. Há também índices alvissareiros de queda no número de homicídios desde o início da campanha: 18% em São Paulo e entre 20% e 30% no Paraná. Milhares de pessoas não morreram porque não havia mais um gatilho a ser puxado.