Título: Pouca procura aos hospitais um dia após a decisão do STF pondo fim à intervenção
Autor: Alessandro Soler
Fonte: O Globo, 22/04/2005, Rio, p. 10

Pacientes têm medo de que, com a volta da gestão municipal, atendimento piore

Nada mudou no atendimento à população depois da decisão do STF que, oficialmente, pôs fim à intervenção de 41 dias nos dois hospitais municipais. Ontem o clima era de tranqüilidade no Souza Aguiar, sem filas e com poucos atendimentos. No Miguel Couto não foi diferente. Já no Hospital do Andaraí, que continua com a União, não havia funcionários das equipes de intervenção e a emergência estava vazia.

Alheia à discussão entre a prefeitura e o governo federal, a população teme que a qualidade do atendimento caia. Morador de Campo Grande, o biscateiro José Luiz Gomes, que sofre de reumatismo, afirmou que nas últimas três semanas vinha sendo atendido regularmente no Souza Aguiar. Ano passado, quando buscou atendimento por causa de dores na coluna, a realidade, segundo ele, era outra: havia filas de no mínimo seis horas, poucos funcionários, corredores lotados e quase nenhum medicamento.

¿ Na terça-feira fui atendido rapidamente. Hoje (ontem) cheguei e já vou ser chamado. Não sabia que o governo federal ia sair, mas sei que quando este hospital estava com a prefeitura a saúde era um caos. Uma vez cheguei aqui com dor na coluna e fiquei esperando até 1h. Muita gente desistia. Tenho medo do que pode acontecer quando o Cesar Maia reassumir ¿ disse Gomes.

Ao lado dele, Janete Marques, moradora de Santa Cruz, estava aguardando uma amiga com enfisema pulmonar receber atendimento:

¿ Chegamos às 8h30m e dez minutos depois ela entrou. É a terceira vez que venho com ela e não tenho do que reclamar. Espero que com essa mudança as coisas não piorem.

Funcionários do Souza Aguiar que preferiram não se identificar disseram que nada mudou no atendimento e que muitos só tinham sabido da devolução dos hospitais pela televisão. No Miguel Couto, Mário Ernani da Silva, agente administrativo, afirmou que nada havia sido comunicado às equipes de plantão.

¿ Soube pelo jornal, nossa chefia nada disse. Queremos que a prefeitura reassuma, pois, com a intervenção, o volume de pacientes aumentou muito. A situação tem que ser normalizada ¿ disse Silva.

Já a dona-de-casa Maria do Carmo Pereira, moradora da Rocinha que levou o marido para ser internado no Miguel Couto, quarta-feira, devido a uma pedra na vesícula, disse que sempre foi bem atendida.

¿ Ontem (anteontem) não esperei nem cinco minutos. Os médicos disseram que ele deveria fazer uma cirurgia, mas ainda estou aguardando notícias. Acho bom a prefeitura voltar. Sempre fui bem tratada aqui, com ou sem intervenção ¿ comentou.

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