Título: EQUATORIANOS PROTESTAM CONTRA ASILO
Autor: Eliane Araújo e Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 22/04/2005, Economia, p. 20

Campanha por e-mails pede que governo brasileiro não receba ex-presidente

BRASÍLIA e QUITO. A decisão do governo brasileiro de conceder asilo político ao ex-presidente Lucio Gutiérrez, do Equador, repercutiu mal entre os equatorianos, que ontem protestaram em frente à residência do embaixador do Brasil em Quito, onde ele se refugiou. Além disso, ligaram incessantemente para a representação diplomática e deflagraram uma campanha de e-mails pedindo que o asilo fosse negado. O governo brasileiro, porém, disse não estar preocupado com as críticas.

Segundo fontes do Itamaraty, o Brasil é um dos signatários da Convenção sobre Asilo Diplomático da Organização dos Estados Americanos (OEA) e, como tal, só estaria impedido de abrir as portas para Gutiérrez se ele fosse acusado, processado ou condenado por delitos comuns pela Justiça equatoriana, sem ter cumprido as penas respectivas a que fosse sentenciado.

Em Quito, no entanto, os opositores de Gutiérrez não poupavam críticas a Brasília.

¿ Se o Brasil é um país tão bom e Lula é um presidente tão progressista como dizem, não conseguimos entender a decisão de conceder asilo. Graças a Gutiérrez não temos Forças Armadas, Congresso nem Supremo Tribunal. Ele acabou com o país e agora vai dançar samba no Brasil ¿ indignou-se Patricia Ashton, de 54 anos, funcionária da Câmara de Comércio do Equador, em frente à residência do embaixador brasileiro, Sergio Florêncio.

Ontem, uma campanha de e-mails foi deflagrada ¿ supostamente por equatorianos ¿ defendendo a rejeição de asilo a Gutiérrez. Numa mensagem, um morador de Quito que se identificou como Roberto Lalama Gross, pede em espanhol ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ¿que não ajude Lucio Gutiérrez a escapar, não permita que vá impunemente para o Brasil¿. O equatoriano adverte Lula para que ¿não ampare num ato de `humanidade¿ quem tem de responder diante do povo do Equador¿.

Xavier Andrade, por sua vez, segue uma linha semelhante e se dirige a Lula: ¿Como é possível que o senhor se preste a este jogo de uma pessoa sem moral que primeiro atuou como conspirador contra a democracia e em seguida a traiu como militar e agora como cidadão presidente?¿, questiona ele.

Já Maricarmen Paz y Mino escreve em bom português, num e-mail da Universidade de San Francisco de Quito: ¿Diga não a Gutiérrez no Brasil¿.

Não é a primeira vez que o governo brasileiro dá asilo político a líderes sul-americanos enfrentando problemas em casa. Um dos mais polêmicos exilados em território nacional é o ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner, derrubado por um golpe militar em 1989 após governar seu país com mão-de-ferro por 35 anos. Desde então, ele vive em Brasília.

Outro paraguaio que se refugiou por aqui foi o general Lino Oviedo, acusado em seu país de ter mandado assassinar o vice-presidente Luis Argaña em 1999 e condenado a dez anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.

O ex-presidente Raúl Cubas também se exilou no Brasil em 1999, primeiro em Santa Catarina e depois no Paraná, após o crime. Ele se refugiou na embaixada brasileira em Assunção depois da morte de seis manifestantes pela polícia em protestos contra a morte de Argaña.

Colaborou Janaína Figueiredo