Título: BUCARAM DERRUBOU PRESIDENTE
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 22/04/2005, O Mundo, p. 21

Foi Abdalá Bucaram ¿ junto aos ¿foragidos¿ de Quito ¿ quem forçou a queda do coronel Gutiérrez. Por quê? O Presidente da República se empenhou em trazer Abdalá Bucaram ao país, ignorando o clamor nacional que exigia o oposto. Houve múltiplos pedidos de retificação que caíram no esquecimento; houve vários apelos ao diálogo que não foram escutados; houve algumas tentativas de negociação que foram traídas.

O ex-presidente Gutiérrez se empenhou com obstinação em fingir que não tinha nada a ver com tudo aquilo, argumentando falsamente que aquele era um problema exclusivo do Legislativo.

Somam-se a isso grandes erros, como a imposição de um estado de emergência que limitou ilegalmente os direitos civis dos cidadãos. O resultado não poderia ser outro: ira social, convulsão e violência.

A consequência está à vista: Lucio já não é mais presidente. Mas o país e a sociedade equatoriana permanecem. A pergunta pertinente é, portanto, o que fazer agora? O importante é salvaguardar as instituições e a democracia.

Alfredo Palacio já foi empossado pelo Congresso como o novo presidente do Equador. Sua tarefa mais urgente será estruturar um governo de transição e consenso. Caberá aos demais atores políticos e sociais deixar de lado atitudes combativas e colaborar para que o país retorne sem demora a um ambiente de paz e estabilidade.

Também cabe aos cidadãos fazer uma reflexão, porque nós ¿ com nosso voto e nossa apatia ¿ somos co-responsáveis pelo que ocorreu. As próximas eleições ¿ sejam em 2006 ou antes ¿ deverão ser uma oportunidade para que se pense com seriedade sobre a capacidade do governo e o aspecto moral dos candidatos.

Não podemos continuar sustentando políticos desonestos como Bucaram, Gutiérrez e tantos outros. Em nós está, em última instância, a responsabilidade de escolher bem e apoiar somente aqueles que representem nossos valores e interesses.

Por ora, algo bom foi feito: desfizemo-nos de um regime que nos havia levado à beira da guerra civil. Alguém que fez o que ninguém se atrevera fazer ¿ trazer Bucaram ¿ para continuar no poder e lucrar com os cargos públicos.

Aos cidadãos também cabe ficar alerta para que o processo de transição política não se corrompa e esta crise se transforme de uma vez por todas numa fonte de renovação política e social permanente.

GONZALO MALDONADO ALBÁN é jornalista do El Comercio