Título: QUALIDADE TOTAL NA MÃO-DE-OBRA
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 23/04/2005, Economia, p. 19

Formação escolar do trabalhador da indústria do Rio aumentou de 1994 para cá

Aindústria fluminense já tem, pelo menos, um bom indicador para comemorar nestes primeiros anos do século XXI. Trata-se da melhora na formação escolar de sua mão-de-obra. De 1994 a 2003, a proporção de trabalhadores com menos de oito anos de estudo (ou seja, ensino fundamental incompleto) caiu de 47,7% para 29%. Em contrapartida, cresceu o percentual de funcionários com ensinos médio ou superior completo: de 22,7% para 37,4%. As informações estão em estudo inédito da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), com base nas estatísticas do Ministério do Trabalho e Emprego.

A Firjan comparou o nível de escolaridade dos empregados na indústria de transformação fluminense, de acordo com dados declarados ao governo pelos patrões. Entre uma década e outra, é evidente a mudança do perfil da mão-de-obra. Em 1994, ano de implantação do Plano Real, apenas 8,8% dos trabalhadores tinham completado o curso superior. Dois anos atrás, a proporção já alcançava 12,5%.

¿ A qualificação melhorou muito, especialmente em relação à mão-de-obra com menos de oito anos de estudo. É um fenômeno que tem a ver com as exigências do mercado. As empresas se modernizaram e passaram a necessitar de trabalhadores mais preparados ¿ diz a economista Luciana de Sá, chefe da Assessoria de Pesquisas Econômicas da Firjan e responsável pela pesquisa.

Mais trabalhadores com faculdade no RJ

O aumento na escolaridade da mão-de-obra industrial fluminense tem impacto direto na produtividade do setor. Traz, portanto, benefícios à atividade econômica no estado. Mas a mudança no perfil dos contratados esconde os ajustes efetuados pelas empresas em seus quadros de pessoal. Dados da própria Federação indicam que, desde 1992, o número de trabalhadores da indústria do Rio caiu à metade.

É lógico supor que, nesse processo, foram dispensados os empregados de baixa qualificação e mantidos ou admitidos os funcionários de alta escolaridade. Ainda que sejam conhecidos também inúmeros programas de educação implementados pelas empresas, especialmente os que tratam de erradicação do analfabetismo. No próprio estudo recém-concluído pela Firjan, a proporção de trabalhadores analfabetos caiu de 1,2% para 0,5% de 1994 a 2003.

O economista Márcio Pochmann, professor da Unicamp e ex-secretário municipal de Trabalho de São Paulo, informa que os anos 90 foram marcados pelo aumento generalizado da escolaridade não apenas no Rio de Janeiro, mas em todo o país. A mão-de-obra abundante, contudo, encontrou um mercado de trabalho limitado, que encolheu em razão do mau desempenho da economia combinado aos planos de automação das empresas em resposta à abertura comercial.

¿ Nos anos 90, o país universalizou o ensino básico. Então, uma quantidade nunca vista de jovens chegou ao mercado mais bem qualificada. Com isso, as empresas substituíram a mão-de-obra mal formada pela mais escolarizada. Mas sem alterar a massa de rendimentos ¿ explica Pochmann.

Não fosse um fenômeno causado pela oferta de trabalhadores, continua o economista, a indústria teria contratado mais funcionários de alta escolaridade por salários mais altos. Em vez disso, o mercado tem aumentado as exigências na contratação, sem aumentar a remuneração.

A mudança no perfil educacional da mão-de-obra industrial manteve o Rio bem colocado tanto em relação à média nacional quando na comparação com outros estados. Aqui, 29,5% dos empregados da indústria geral têm menos de oito anos de estudo e 9,3% concluíram o superior. No Brasil, as proporções são de 32,6% e 5,9%, respectivamente.

No ranking estadual, o estado só perde para Amazonas (10,1%), Distrito Federal (24,2%) e São Paulo (26,4%) na proporção dos que não completaram o ensino fundamental. Mas lidera a lista dos trabalhadores da indústria com curso superior: 9,3%, contra 8,7% em São Paulo e 7,2% no Distrito Federal.

Jovens admitidos têm mais estudo

A alteração no perfil da mão-de-obra não foi homogênea entre os setores. Na produção de medicamentos e cosméticos, por exemplo, dobrou a proporção de funcionários com nível universitário: de 9,9% para 20,7% entre 1994 a 2003. Mas o percentual manteve-se praticamente estável nas indústrias de móveis e têxtil.

O estudo da Firjan observou ainda que é expressivo o aumento da escolaridade entre os jovens que ingressam no mercado de trabalho. Há dez anos, um em cada dois contratados para a primeira ocupação tinha menos de oito anos de estudo. Na ocasião, apenas 24% tinham completado, pelo menos, o ensino médio. Em 2003, revela a pesquisa, a proporção dos que não completaram o ensino fundamental caíra para 26% e a dos que tinham mais de 11 anos de estudo alcançara 50%.

Nos dias de hoje, a indústria que mais contrata jovens no Rio é a de alimentos. O setor contratou 24% da mão-de-obra admitida pela primeira vez. Em 1994, vestuário e tecidos, alimentos, e papel e papelão respondiam por 58% das contratações de primeiro emprego na indústria.