Título: JAPÃO PEDE PERDÃO À CHINA PELA GUERRA
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 23/04/2005, O Mundo, p. 26

Primeiro-ministro tenta encontro com presidente chinês para desfazer tensão

PEQUIM. O primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, surpreendeu ontem os governos da China e da Coréia do Sul ao fazer um inédito pedido de desculpas público pelas agressões cometidas pelos japoneses aos países da Ásia entre 1937 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial. Koizumi aproveitou o encontro de cúpula entre os países asiáticos e africanos, que ocorre em Jacarta, na Indonésia.

O pedido de perdão já está sendo encarado como uma estratégia para pressionar o governo chinês a aceitar o pedido para um encontro com o Japão. Os dois países passam pela maior crise nas relações diplomáticas dos últimos anos.

¿ No passado, o Japão, através de sua orientação colonialista e de agressão, causou enorme prejuízo e sofrimento às pessoas de vários países, especialmente às nações asiáticas ¿ disse Koizumi, para uma surpresa platéia de chefes de Estado. ¿ O Japão encara firmemente esses fatos da História com espírito de humildade. E com um sentimento de extremo remorso e um emocionado pedido de desculpas, o Japão se propôs, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, nunca se tornar uma potência militar, mas uma potência econômica.

China critica visita a santuário xintoísta

A China aceitou o pedido de perdão.

¿ Saudamos a atitude do primeiro ministro Koizumi, que olhou para 60 anos atrás e para os abusos que o Japão cometeu com outros países asiáticos ¿ disse o porta-voz da diplomacia chinesa, Kong Quan.

Mas a satisfação da China não impediu que o país manifestasse sua contrariedade pela visita que uma delegação de parlamentares japoneses fez ontem ao santuário xintoísta de Yasukumi, em homenagem aos soldados japoneses mortos durante a Segunda Guerra. Em anos anteriores, visitas similares do primeiro-ministro Koizumi a este santuário provocaram a ira da China e das duas Coréias.

O pedido de desculpas do premier japonês provocou um sentimento geral de alívio durante a cúpula, depois de três semanas de grandes protestos populares nas maiores cidades da China e em Seul, capital da Coréia do Sul ¿ os países que mais sofreram com a sangrenta invasão japonesa ¿ contra a decisão do governo japonês de aprovar livros didáticos suavizando as atrocidades cometidas pelo país na ocupação dos vizinhos durante a guerra.

Mas a declaração de Koizumi vai certamente facilitar um encontro de cúpula entre o primeiro-ministro japonês e o presidente da China, Hu Jintao, com o objetivo de melhorar a relação entre os dois países. Até os últimos minutos que antecederam a abertura formal da cúpula Ásia-África, diplomatas dos dois países tentavam promover um encontro entre os líderes, sem sucesso.