Título: CONSELHO: 74% DOS MÉDICOS ESTÃO NO SUL E SUDESTE
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 24/04/2005, O País, p. 11

Prefeituras do Norte e Nordeste oferecem salários de até R$16 mil para enfrentar carência de profissionais de saúde

BRASÍLIA. Longe das capitais, prefeituras oferecem salários de até R$16 mil para atrair médicos e assim enfrentar um problema crônico nos pequenos municípios: a falta de profissionais de saúde. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), 74% dos médicos atuam no Sul e no Sudeste, sendo que São Paulo e Rio de Janeiro concentram 49% deles.

Essa realidade ficou evidente semana passada, quando a Justiça Federal proibiu médicos cubanos de trabalhar em Tocantins e parte deles deixou o país num avião enviado pelo governo de Cuba.

Os profissionais cubanos estavam em situação irregular perante o Conselho Regional de Medicina de Tocantins, mas eram a garantia de atendimento em cerca de 40 municípios. Com a liminar concedida pelo Tribunal Regional Federal, que voltou a permitir que os médicos cubanos trabalhassem no país, 35 foram recontratados, mas outros 61 já haviam voltado para Cuba. O governo estadual corre agora atrás de uma solução emergencial.

A falta de médicos no interior contrasta com os números gerais do país. O Conselho Federal de Medicina (CFM) contabiliza 318 mil profissionais em atividade, quantidade suficiente para atender uma população quase duas vezes maior do que a brasileira. É o que diz o presidente da Associação Médica Brasileira, Eleuses Vieira de Paiva.

¿ Não faltam médicos no Brasil. O que existe é uma concentração no Sul e Sudeste, além da falta de uma política de interiorização ¿ diz Paiva.

Paiva critica a inexistência de planos de carreira para profissionais de medicina nos estados. Ele cita o exemplo da magistratura, em que juízes começam a trabalhar no interior e são depois transferidos para a capital. A municipalização da saúde, no entanto, dificulta a adoção da medida.

¿É preciso dar perspectivas ao profissional¿, diz médico

O coordenador da Comissão de Ensino Médico do CFM, Genário Alves Barbosa, faz coro com Paiva. Segundo ele, não bastam altos salários para atrair médicos para o interior. Até porque boa parte das propostas de trabalho é precária: contratos temporários rescindidos ao sabor de brigas políticas, trocas de prefeitos e mesmo substituição por mão-de-obra mais barata.

¿ Para atrair médicos para o interior, é preciso ter uma carreira, ou seja, dar perspectivas ao profissional ¿ diz Barbosa.

A página do CFM na internet reserva espaço para anúncios. Na última quarta-feira, um deles informava que a Prefeitura de Redenção, no Pará, oferecia R$16 mil por mês para contratar um cardiologista. Em Ipu, no Ceará, a oferta era de R$13.650 para um cirurgião geral.

¿ Sem um salário mais alto, os médicos não viriam ¿ diz o secretário municipal de Saúde de Pedro Afonso, em Tocantins.

Ano passado, o CFM realizou levantamento com amostra de médicos em todo o país e estimou que 62% deles atuavam nas capitais contra 38% no interior. A proporção indicava um ligeira interiorização da atividade médica, pois outra pesquisa realizada em 1996 indicou que 65% dos médicos trabalhavam nas capitais. Em estados como Acre, Amapá, Roraima e Sergipe, porém, quase 100% dos profissionais de saúde estavam concentrados nas capitais.