Título: PARA INDÚSTRIA, TAXA IMPEDE CRESCIMENTO
Autor: Mirelle de França
Fonte: O Globo, 24/04/2005, Economia, p. 33

CNI e Fiesp também defendem queda dos juros de agentes

A redução dos spreads do BNDES é uma demanda antiga do setor industrial. Tanto a Confederação Nacional da Indústria (CNI) quanto a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) defendem a redução do custo dos financiamentos como forma de incentivar o crescimento do setor. Para o coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, as empresas brasileiras estão em desvantagem em relação às estrangeiras, principalmente as asiáticas, por causa das taxas de juros elevadas cobradas pelo banco estatal.

¿ Não apresentamos um estudo oficial, mas já nos manifestamos várias vezes sobre a necessidade de reduzir o custo do financiamento de longo prazo. E o BNDES é a única fonte de financiamento de longo prazo a que temos acesso. A TJLP é alta, assim como os spreads cobrados pelo banco. Na comparação com o custo que têm nossos principais concorrentes, como os países asiáticos, saímos perdendo ¿ afirmou Castelo Branco, ressaltando que países como Coréia e Cingapura têm taxas de juros anuais em torno de 4%.

Fiesp atribui queda no desembolso a custo alto

Embora admita que taxas de juros semelhantes são quase impossíveis, o economista da CNI afirma que qualquer medida de redução de spread adotada pelo BNDES será positiva. Castelo Branco lembra ainda que um corte promovido pelo banco estatal acaba resultando em um custo total mais baixo para as empresas:

¿ Além da TJLP e dos spreads do BNDES, o agente repassador dos recursos do banco (no caso das operações indiretas) também tem que melhorar suas condições.

O economista acredita que foram os altos custos dos empréstimos do BNDES que provocaram o encalhe de R$7 bilhões nos cofres do banco no ano passado. Com um orçamento de R$47,3 bilhões em 2004, a instituição conseguiu emprestar R$40 bilhões. Para este ano, o orçamento é de R$60 bilhões. Até março, foram desembolsados R$9,4 bilhões.

Um estudo apresentado pela Fiesp em março já defendia, além de uma redução da TJLP para, no máximo, 8% ao ano, uma queda dos spreads cobrados pelo BNDES e por seus agentes repassadores. O levantamento também responsabilizou o elevado custo dos financiamentos pelo desembolso do BNDES abaixo do orçamento no ano passado.

A primeira redução de spread do BNDES no governo Lula foi feita ainda na gestão de Carlos Lessa, em outubro de 2003. Na época, o teto do spread foi reduzido em um ponto percentual ¿ para, no máximo, 6,5% ao ano. O banco também aumentou sua participação nos financiamentos de 60% para 80% do valor dos projetos. (M.F.)