Título: O que mostrar
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 25/04/2005, O Globo, p. 2

A sucessão presidencial chegou cedo, apesar das dissimulações. Duas são as ansiedades em torno da reeleição do presidente Lula: a composição das alianças e o que mostrar em matéria de resultados para justificar o pedido de mais um mandato ao eleitorado. A retomada do crescimento é pouco diante das expectativas criadas em 2002 e das promessas que ainda não foram cumpridas.

Nas conversas com petistas e aliados, Lula aparenta mais serenidade do que eles. As alianças, acha que virão naturalmente se o governo estiver bem. Se não estiver, virão facadas e faturas mesmo. Uma destas reuniões aconteceu na quarta-feira à noite, só com cardeais petistas. Aos aliados o presidente tem dito a mesma coisa. Que eles, os partidos, podem tratar da eleição, cabendo ao governo trabalhar duro este ano para ter o que mostrar.

O governador Aécio Neves, um dos presidenciáveis tucanos, diz que Lula não poderá mais se apresentar como em 2002, vendendo esperança. Que em 2006 a disputa será pautada pela comparação de resultados e competência na gestão.

Quando a cobrança é feita a Lula, pelos seus, ele pega corda e discorre sobre o que poderá mostrar, além de dizer que pôs a economia no rumo do crescimento e está fazendo um grande programa social, o Bolsa Família. E aponta cinco obras físicas que poderão estar prontas ou em execução até 2006.

Uma, talvez a que mais o entusiasme, é a transposição das águas do Rio São Francisco. O Ibama pode dar até o fim deste mês o parecer autorizando o início da obra, que enfrentou protestos em alguns estados na fase de consultas à sociedade.

Depois, o programa dos gasodutos, que prevê a implantação de 4.600 quilômetros de novas redes neste ano e no próximo. Entre eles, o Campinas-Rio, o Dow-Camaçari, o Coari-Manaus e o Gasene, que ligará o Sudeste ao Nordeste. Alguns em obras, outros atrasados. Lula tem pedido pressa no início das obras da ferrovia Transnordestina, que pretende lançar pessoalmente. A ferrovia ligará os nove estados do Nordeste, integrando sua produção econômica. Mas falta ainda o mais importante, fechar o pacote de investimentos, reunindo BNDES e parceiros privados, através de PPS.

Outro xodó: o programa do biodiesel, de incentivo ao plantio de mamona e à construção de pequenas usinas para garantir o aumento da oferta deste combustível, abrindo ao mesmo tempo oportunidades para pequenos produtores rurais e industriais.

É pouco, se comparado, por exemplo, ao programa de obras de Juscelino, sempre lembrado nesta semana do aniversário de Brasília, a mais conhecida mas não sua única obra. Houve a expansão da malha rodoviária, da siderurgia, da geração de energia e a implantação da indústria automobilística. Os presidentes militares também fizeram suas grandes obras. Já na fase democrática, elas sumiram. Antes, havia a inflação. Depois do real, veio a contenção fiscal.

Fernando Pimentel, prefeito petista de Belo Horizonte, diz que tem advertido o governo para o custo político que pagará se não der logo um jeito nas estradas. Mas são os cinco projetos listados os que animam Lula e os governistas quando cobrados sobre o que mostrar em 2006.

Novo muxoxo da Argentina para o Brasil, agora por conta do asilo concedido ao presidente deposto do Equador, ¿sem consultar os vizinhos¿. Tudo se complica nesta relação.