Título: TRIPLICA NÚMERO DE BRASILEIROS DETIDOS NOS EUA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 25/04/2005, O País, p. 5

Desde outubro, 15 mil pessoas foram presas tentando entrar ilegalmente no país pelo México. A média é de 75 por dia

WASHINGTON. A Patrulha de Fronteira dos Estados Unidos calcula que o número de brasileiros que são capturados ao entrar ilegalmente no país através da fronteira com o México triplicará este ano, chegando a cerca de 27 mil pessoas. De acordo com os registros oficiais, desde 1º de outubro passado ¿ início do ano fiscal americano de 2005 ¿ até ontem foram detidos 15.428 brasileiros. No ano fiscal de 2004 tinham sido apanhados 8.629. Portanto, a média, que era de 24 por dia no ano passado, agora é de 75.

Brasileiros já sabem que não ficarão detidos

¿ Eles chegam sem medo. Sabem perfeitamente o que está acontecendo. Já chegou ao Brasil a notícia de que brasileiros têm um tratamento diferenciado: em vez de ficarem na cadeia, esperando a deportação, eles são liberados depois de dar um endereço qualquer nos EUA, e ficam aguardando uma ordem judicial para se apresentar para uma audiência. Só que a grande maioria simplesmente passa a viver clandestinamente no país ¿ disse Ricardo Gorena, chefe de Polícia de La Joya, no Texas.

Esse tratamento diferenciado também desagrada à Comissão de Fronteira, do Congresso dos Estados Unidos. Ela está pressionando o presidente George W. Bush a determinar um tratamento mais duro aos brasileiros. Seu temor é de que terroristas do grupo al-Qaeda, comandado por Osama bin Laden, tratem de entrar nos EUA usando passaportes brasileiros falsificados.

Tanto o Comando Sul, do Pentágono, cuja jurisdição abrange toda a América Latina, quanto o Departamento de Estado têm mencionado regularmente ¿ como O GLOBO noticiou semanas atrás ¿ suspeitas de que terroristas internacionais estariam usando o Brasil como ponte para entrar nos EUA, via México, com passaportes brasileiros falsificados. O México não exige vistos de entrada para brasileiros, que chegam ao país como turistas e, em seguida, viajam até a fronteira para entrar clandestinamente nos EUA.

Por pressões do governo americano, o México já vem agindo com maior rigor: no ano passado 5.084 brasileiros foram barrados. A maioria (3.872) teve negada a entrada no país, depois que fiscais de imigração suspeitaram que aquelas pessoas não eram turistas mas, sim, pretendiam seguir ilegalmente para os EUA. Os 1.212 restantes foram detidos ao se aproximarem da fronteira.

¿ Recebemos informações de que pessoas que sequer falam português abordam brasileiros para adquirir seu passaporte e falsificá-lo. Ao cruzarem a fronteira se entregam à patrulha apresentando-se como cidadãos do Brasil. Assim, elas são liberadas e penetram no país ¿ diz o deputado democrata Solomon P. Ortiz, que co-preside a Comissão de Fronteira com o republicano Henry Bonilla.

Ambos já enviaram duas cartas ao presidente Bush solicitando que se aplique aos brasileiros o mesmo procedimento utilizado em relação aos mexicanos que cruzam a fronteira ilegalmente: detenção e deportação quase imediata. Segundo Tomas Herrera, delegado de polícia do condado de Maverick, os brasileiros chamam de ¿diploma¿ a notificação que recebem para se apresentar para uma audiência judicial.

¿ Eles simplesmente ligam para parentes ou amigos que já estão nos EUA, para pedir dinheiro e quando o recebem simplesmente viajam para outra cidade e jamais aparecem para a audiência ¿ disse ele.

Falta de abrigos seria um dos motivos para liberação

O deputado estadual texano Kino Flores disse que há uma grande preocupação também na assembléia legislativa daquele estado:

¿ Nossa principal preocupação é que os agentes federais estão deixando os brasileiros irem embora, simplesmente solicitando que voltem para uma audiência. Isso nos assusta porque há essas informações de que gente envolvida com a al-Qaeda vem entrando aqui com passaportes brasileiros.

Segundo Roy Cervantes, supervisor e agente da Patrulha de Fronteira, no Texas, a liberação dos brasileiros ¿ e de outros estrangeiros, que não sejam mexicanos (estes compõem a maioria dos imigrantes ilegais) ¿ é explicada, basicamente, pelo fato de que os locais de detenção não têm capacidade para abrigar tantas pessoas.