Título: Reviravolta nos céus brasileiros
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 25/04/2005, Economia, p. 13

Após dois anos, fim da parceria entre Varig e TAM faz várias empresas alterarem rotas

Ofim do code-share (operação compartilhada) entre a Varig e a TAM, previsto para o dia 2 de maio, vai aumentar a oferta de vôos no país, inclusive para o interior, estimular a concorrência, além de abrir espaço para as empresas menores, que operam linhas regionais. Empresas como a Total, a Trip e a Rico começam a atender no próximo mês linhas que serão desativadas pela Varig, ao mesmo tempo em que companhias maiores como Gol e TAM traçam estratégias para aumentar a sua fatia no mercado.

A partir do fim de maio, a BRA Linhas Aéreas começa a funcionar como empresa regular e entrará na ponte aérea Rio-São Paulo, com cinco vôos diários. E a WebJet começa a operar, inaugurando um vôo que vai ligar Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Porto Alegre, em duas freqüências diárias.

Segundo especialistas do setor, o fim do casamento entre as duas maiores companhias do país, que durou mais de dois anos, vai provocar uma mexida no mercado doméstico da aviação civil. De um lado, está a TAM, que vai expandir a malha aérea em 12% (assentos por quilômetro) e passará a fazer nove novos trechos, como, Natal e Curitiba, a partir do Galeão, além de atender sozinha mais três cidades da Região Sul (Navegantes, Joinville e Caxias do Sul), num total de 44.

Do outro lado, em meio a uma crise que se arrasta há mais de três anos, está a Varig, que perdeu a liderança no mercado doméstico para a TAM em julho de 2003 e vai encolher ainda mais, podendo ser ultrapassada pela Gol já no próximo mês. Com o fim do code-share, a Varig deixará de atender oito rotas, como Joinville, Navegantes e Caxias do Sul, além de reduzir várias freqüências para algumas cidades do interior do país.

Gol pretende ampliar vôos

De acordo com projeções do mercado, a participação da Varig deverá cair de 29,8% para algo em torno de 23% e, com isso, ela ficará em terceiro lugar, atrás da Gol, que já tem hoje 26%, e da TAM, que lidera com 41,7%. Para vencer a concorrência, a Gol pretende aumentar o número de vôos diretos e as freqüências nas rotas de alta densidade.

¿ A Varig vem perdendo mercado e não tem como reverter esse processo. Há uma percepção de fragilidade em todos os níveis da empresa ¿ afirmou o analista da Corretora Pentágono, Marcelo Ribeiro.

Segundo ele, será um grande desafio para a Varig seguir sozinha, pois o code-share com a TAM representa cerca de 30% de toda a sua malha. Além de ter um patrimônio negativo de R$6,44 bilhões, conforme balanço de 2004, a empresa passa por estrangulamento de caixa e as receitas operacionais são insuficientes para cobrir as despesas.

Os usuários também devem ganhar com uma política menos restritiva por parte do Departamento de Aviação Civil (DAC), no que se refere a preços promocionais e importação de aviões. Em maio de 2004, um parecer da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda recomendou a suspensão do code-share, sob alegação de que as duas companhias cancelaram rotas lucrativas, o que provocou elevação nos preços.

¿ O fim do code-share vai aumentar a concorrência e, como conseqüência, é presumível a redução das tarifas e melhoria nos serviços ¿ disse Ruy Coutinho, ex-presidente da Secretaria de Direito Econômico (SDE) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Se depender das promessas de dirigentes das empresas que estão entrando no mercado, passageiros que viajam de ônibus em grandes distâncias, passarão a andar de avião.

Segundo o diretor de Planejamento e Tráfego da BRA, Waldomiro da Silva Júnior, a passagem na ponte aérea (Congonhas-Santos Dumont) custará R$129, e do Galeão para Brasília, R$169. Já o diretor-presidente da WebJet, Rogério Ottoni, informou que a tarifa da empresa será calculada com base na média do mercado, mas com um desconto de 10% a 20%.

De olho no espaço deixado pela Varig, a Total, que tem foco em Minas Gerais e atende a 19 cidades, inclusive no Pará, vai aumentar os vôos de Belo Horizonte para Uberlândia. A empresa vai começar a voar para Porto Trombetas (PA), rota que a Varig pretende desativar. Com um faturamento de R$15 milhões mensais, a Total tem uma frota de dez aviões ATR 42 (45 a 50 lugares).

Já a Trip, que opera em 20 cidades com sete aviões, ligando municípios da região Sul aos do Centro-Oeste, com alvo no agronegócio, quer voar para Chapecó, Joinville e Criciúma no segundo semestre. Em 2 de maio, a Trip também inaugura parceria com a Rico Linhas Aéreas e vai voar para 13 cidades do Amazonas, como Manaus, Tefé, Tabatinga, mais Porto Velho, em Rondônia. Essas cidades deixarão de ser atendidas pela Rico, que passará a se concentrar nos trechos de longa distância, ligando as principais capitais da região Norte. Para isso, a empresa está mudando os aviões menores por Boeings (737-200). Com nove aviões, a companhia opera na região há oito anos.

O DRAMA DOS 4.500 FUNCIONÁRIOS DA VASP: SEM SALÁRIO, NEM AUTO-ESTIMA, na página 14