Título: BRASÍLIA SE PREPARA PARA FATURAR COM REUNIÃO DE ÁRABES E SUL-AMERICANOS
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 25/04/2005, Economia, p. 17

Hotéis e restaurantes procuram se adaptar às diferenças de culturas

BRASÍLIA. A duas semanas da reunião de chefes de Estado da América do Sul e do Mundo Árabe, evento inédito em Brasília, os donos de hotéis, bares e restaurantes da capital da República estão rindo à toa. A associação comercial local espera faturar US$1,2 milhão (R$3,6 milhões) em cada um dos dois dias de reunião, 10 e 11 de maio. Portanto, vão embolsar algo como R$6,2 milhões em 48 horas. Mas o lucro também tem seu preço: os estabelecimentos têm que se preparar para atender aos hábitos das delegações árabes, o que inclui espalhar setinhas nas suítes indicando para que lado fica Meca, cidade sagrada dos muçulmanos.

¿ Levamos em conta que cada pessoa gastará, em média, de US$300 a US$400 por dia. Será US$1,2 milhão por dia se vierem três mil pessoas ¿ afirma o presidente da Associação Comercial do Distrito Federal, Fernando Brites.

Virão 34 chefes de Estado, sendo 12 da América do Sul e 24 árabes. Para o vice-presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares, Eraldo Alves da Cruz, mesmo que nem todos compareçam, certamente enviarão representantes.

¿ É um fato inédito. Isso nunca aconteceu antes ¿ diz.

Da cúpula sairá um documento de cerca de 40 páginas, já praticamente acertado pelos chanceleres das duas regiões, que se reuniram no mês passado, no Marrocos. Mas a palavra final será dos chefes de Estado. Fontes do governo brasileiro revelaram que, do lado do Mundo Árabe, o documento deverá conter uma citação mais incisiva sobre a política desenvolvida por Israel e, do lado da América do Sul, uma referência explícita à democracia.

Reserva de mais toalhas para as orações

Os funcionários da maior parte dos dez hotéis reservados pelo Itamaraty estão se movimentando rapidamente para receber as delegações. Segundo Pérsio Mello, gerente do Meliá Brasília, o hotel está reservando toalhas para que os hóspedes possam rezar voltados para Meca. Outro cuidado foi com os atendentes. Como as mulheres não podem servir os homens, as camareiras serão trocadas por camareiros.

¿ Os marroquinos, por exemplo, batem palmas ao entrar num restaurante. Em alguns países, você não pode olhar nos olhos das mulheres. Precisamos saber o que eles comem, como falam e se o contato físico é algo tolerável ¿ complementa o gerente do Grand Bittar, Henrique Severien.

Segundo ele, não é verdade que as suítes de Brasília são pequenas para atender aos magnatas do petróleo:

¿ Nossa suíte tem 200 metros quadrados. O mínimo exigido pelo Itamaraty é metade disso. Há tapetes persas, uma grande banheira, vários ambientes e dá para oito pessoas.

A gerente comercial do Hotel Naoum, Bete Mendes, orgulha-se do fato de o hotel ser o único da cidade a ter uma suíte real, em quase dois andares do prédio:

¿ A suíte foi construída para receber o príncipe Charles e a princesa Diana, em 1992 e, desde então, já recebemos uma centena de chefes de Estado, entre os quais o imperador do Japão e os presidentes da China e da Coréia. O presidente de Cuba, Fidel Castro, só fica aqui.

As suítes presidenciais custam, em média, R$3 mil a diária nos hotéis da cidade, mas o valor da diária da suíte real não é revelado. Os responsáveis pelos hotéis também não dizem quem vão receber, seguindo orientação do Itamaraty, que pagará quatro quartos por delegação ¿ um para o presidente, um para o chanceler, um para um alto funcionário e outro para a Polícia Federal.

A sede da cúpula será o Hotel Blue Tree, onde, atualmente, os moradores e hóspedes eventuais estão sendo obrigados a tirar fotografia e municiar a Polícia Federal de dados. Paralelamente, haverá encontro de empresários no Centro de Convenções de Brasília.

Delegações só poderão chegar em três aviões

O governo brasileiro, que vem pedindo que os países enviem o menor número possível de representantes, ainda tem que lidar com o pouco espaço disponível para as aeronaves. O Aeroporto de Brasília só comporta 44 aviões e será admitido o ingresso de até três aviões por país. Segundo a Infraero, os marroquinos, por exemplo, queriam trazer nove aviões. Mas o Itamaraty já avisou que só admitirá até três aeronaves por país.

COLABOROU Cristiane Jungblut