Título: `Queremos ter magníficas relações com Lula¿
Autor: Janaína Figueiredo e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 25/04/2005, O Mundo, p. 20
QUITO. Apesar de o Brasil ter concedido asilo político ao ex-presidente do Equador, Lucio Gutiérrez, o novo governo do país assegura que a decisão não estremecerá as relações entre os dois países. No entanto, admitiu ao GLOBO o ministro das Relações Exteriores equatoriano, Antonio Parra Gil, o mais provável é que o Equador solicite a extradição de Gutiérrez.
O fato de o Brasil ter concedido asilo ao ex-presidente Gutiérrez poderia complicar as relações entre os dois países?
ANTONIO PARRA GIL: Não, essa decisão não nos pareceu errada. Respeitamos a posição do governo brasileiro e queremos ter magníficas relações com o presidente Lula.
Como equatoriano, o senhor acha que Gutiérrez deveria prestar contas à Justiça?
PARRA GIL: Como equatoriano, claro que considero que o ex-presidente deveria prestar contas à Justiça. Sendo designado um novo Supremo Tribunal de Justiça, a situação poderia caminhar para um julgamento.
O governo Palacio avalia a possibilidade de solicitar a extradição de Gutiérrez?
PARRA GIL: O salvo-conduto concedido para que o ex-presidente pudesse abandonar o país prevê a possibilidade da extradição. Se existirem elementos, esta será solicitada. Dependerá do Brasil autorizá-la ou não.
Vários ex-presidentes equatorianos pediram asilo nos últimos anos...
PARRA GIL: Sim, é lamentável. Não podemos questionar a decisão do Brasil, porque trata-se de um país soberano que respeitou uma convenção. Esta história é produto de corrupção, nepotismo. Gutiérrez empregou a família toda em seu governo! Há uma frustração enorme entre os equatorianos.
Nos últimos dez anos, o Equador teve sete presidentes. O que garante que Alfredo Palacio conseguirá completar seu mandato?
PARRA GIL: As crises anteriores foram provocadas pela incapacidade dos presidentes, pela corrupção e pelo atropelo das normas constitucionais. Palacio é honesto e capaz. Um homem de uma enorme cultura, que está preparado para mudar o país.
Mas ele não tem base política...
PARRA GIL: Vamos construir nossa base e, sobretudo, nossa aliança com o povo.
Como será o relacionamento com os EUA?
PARRA GIL: Esperamos que bom, assim como queremos ter boas relações com a União Européia e com todos os nossos vizinhos.
Mas o governo ainda não foi reconhecido.
PARRA GIL: Não é necessário um reconhecimento. O que nos dói é que países duvidem da legalidade do nosso processo democrático. Gutiérrez foi deposto com 62 votos por abandono de poder. Era necessária a maioria simples, e não dois terços do Congresso porque não houve impeachment.
Justamente, o que se questiona é que o Congresso pulou o impeachment...
PARRA GIL: Gutiérrez foi deposto por abandono, num processo baseado na Constituição. (Janaína Figueiredo)