Título: OEA ENVIA HOJE MISSÃO PARA AVALIAR CRISE POLÍTICA
Autor: Janaína Figueiredo e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 25/04/2005, O Mundo, p. 20

Políticos recusam convite para assumir cargos no governo, aumentando a instabilidade

QUITO E WASHINGTON. O Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) envia hoje uma missão ao Equador para investigar se a destituição do presidente Lucio Gutiérrez pelo Congresso foi legal. O chanceler brasileiro Celso Amorim e seus colegas de países vizinhos como o Peru e da Bolívia também vão a Quito com o mesmo propósito.

Ontem a capital teve um dia calmo, após a vinda do presidente deposto para o Brasil, mas o clima de instabilidade ainda é forte. Segundo jornais equatorianos, diversos políticos se recusaram a aceitar a nomeação do presidente Alfredo Palacio. Entre eles está o presidente do Conselho Nacional de Educação Superior, Vinicio Baquero, que chegou a ser anunciado como ministro da Educação, mas horas depois disse em uma entrevista que recusou o convite.

EUA sugerem eleições presidenciais antecipadas

A fragilidade política do novo governo pode influenciar o parecer da OEA. O enviado equatoriano à organização, Blasco Peñaherrera, pediu o reconhecimento do novo governo invocando a Carta Democrática Interamericana como solução para a crise no país. O documento adotado em setembro de 2001, no entanto, é uma espécie de salvaguarda contra golpes de Estado e poderá ser usado com outra finalidade: contra o novo governo equatoriano, se a OEA concluir que houve uma ruptura da ordem constitucional do Equador.

O não-reconhecimento pela OEA transformaria o governo equatoriano numa espécie de pária dentro da América Latina, impedido de receber crédito e de comerciar livremente com os demais países membros. O governo dos Estados Unidos sugeriu a antecipação das eleições presidenciais de 2007 como a melhor solução para a crise.

Sarney diz que Gutiérrez é o Chávez que não deu certo

Num pronunciamento diante do Conselho, Peñaherrera pediu a solidariedade da OEA com o povo equatoriano e com o presidente Alfredo Palácio, que agora responde pelo povo do país.

¿ Solicito o apoio e a ajuda da organização nos termos da carta democrática para que nos ajude na dura e complexa tarefa de restaurar e consolidar a instituição jurídica do país. O ex-presidente, ao dissolver a Suprema Corte, promoveu um assalto às instituições num processo de destruição da legalidade democrática. A medida de Gutiérrez foi para proteger seu aliado, o ex-presidente Abdalá Bucaram, acusado de corrupção que estava exilado no Panamá ¿ disse Peñaherrera.

O representante da Venezuela, Jorge Valero, afirmou que os acontecimentos no Equador representam a ¿crise de um modelo político, econômico e social excludente¿ que deve ser substituído ¿por outro modelo baseado na participação popular.¿

No Brasil, o ex-presidente da República e senador José Sarney comparou o presidente deposto ao presidente venezuelano Hugo Chávez:

¿ Ele é o Chávez que não deu certo.