Título: LULA ESTUDA ANTECIPAR SAÍDA DE MINISTROS CANDIDATOS
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 26/04/2005, O País, p. 11
Prazo de desincompatibilização é abril de 2006, mas presidente cogita possibilidade de substituição em outubro
BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estuda a possibilidade de antecipar para outubro a substituição dos ministros políticos que vão disputar as eleições do ano que vem. O prazo final de desincompatibilização previsto na legislação eleitoral é abril de 2006, mas a proposta de antecipar essa data ganha força por dois motivos: primeiro, pela possibilidade de dar mais agilidade gerencial ao governo, com a saída de ministros com desempenho abaixo do desejável. O segundo motivo é que o presidente poderia montar uma equipe forte para o último ano de governo, evitando um Ministério com grande número de titulares com mandato-tampão.
Com a antecipação, o presidente Lula faria a reforma ministerial que não fez no início do ano, para acomodar aliados e fortalecer algumas pastas estratégicas do primeiro escalão.
Costa, Olívio, Aldo e Jucá podem sair em outubro
Tem influenciado muito o presidente o argumento de que uma equipe fraca, a partir de abril de 2006, enfraqueceria o governo no ano da disputa da reeleição. A idéia lhe foi apresentada recentemente numa das reuniões do núcleo político do Palácio do Planalto.
Se optar por essa antecipação, Lula poderá tirar da equipe colaboradores já cotados para deixar o posto anteriormente, mas agora com a justificativa da desincompatibilização. É o caso de ministros como Humberto Costa (Saúde), Olívio Dutra (Cidades) e Aldo Rebelo (Coordenação Política). O recém-nomeado ministro da Previdência, Romero Jucá, seria outra vítima de outubro, caso ocorra mesmo a antecipação.
Por esse critério, ministros que estão bem avaliados internamente, mas que querem disputar um cargo eletivo em 2006, também teriam que sair em outubro. É o caso de ministros como Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), que será candidato ao governo da Bahia, e Eunício Oliveira (Comunicações), que deve entrar na disputa cearense.
¿Do ponto de vista gerencial, é uma solução sadia¿
A idéia já começa a ser assimilada pelos ministros candidatos como uma boa solução. O principal argumento é que eles podem entrar no corpo-a-corpo um ano antes da eleição, sem o constrangimento de eventuais acusações de uso da máquina federal. O ministro Jaques Wagner, por exemplo, cita eventos do calendário eleitoral que lhe interessam, como a lavagem das escadarias da Igreja do Senhor do Bonfim, que acontece em Salvador em janeiro. Como ministro, ele não teria mobilidade para estar na capital baiana durante o expediente.
¿ Não acho nenhum desastre sair do governo em outubro. Pelo contrário. Por um lado, você perde o posto de ministro, que tem visibilidade. Mas, ao mesmo tempo, como ministro você fica mais policiado para não fazer campanha. Além disso, do ponto de vista gerencial, é uma solução sadia a saída dos ministros candidatos. Isso porque já em dezembro todos nós só teremos cabeça para a campanha ¿ disse Jaques Wagner.