Título: CONSUMIDOR ENDIVIDADO: DESACELERAÇÃO NA PRODUÇÃO COMEÇOU MÊS PASSADO
Autor: Patricia Eloy, Cleide Carvalho e Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 26/04/2005, Economia, p. 19
Efeito da alta dos juros no dia-a-dia das indústrias ainda é moderado
Para economistas, exportações e crédito servem de colchão para atividade
RIO e SÃO PAULO. O aperto monetário que começa a doer no bolso dos consumidores é apenas moderado no setor produtivo. Os primeiros sinais de desaquecimento da atividade econômica, especialmente na indústria, apareceram nos indicadores de março, embora os juros básicos estejam subindo desde setembro de 2004. Para os analistas, os efeitos nocivos da Selic estão sendo compensados pelo vigor das exportações e da oferta de crédito, que mantêm as empresas ocupadas.
¿ A economia passou por uma mudança estrutural que está amortecendo os efeitos da política monetária. No passado, essa alta de juros seria devastadora, porque exportações e crédito não pesavam tanto quanto hoje ¿ afirma Cláudio Vaz, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).
A última prévia da Sondagem da Indústria da Fundação Getúlio Vargas (FGV) trouxe sinais de desaceleração. Os empresários se mostram frustrados com o presente (a situação dos negócios piorou e o nível de estoques aumentou desde janeiro), mas animados com o futuro próximo. Metade dos entrevistados espera aumento da demanda, da produção e do emprego de abril a junho.
Os investimentos da indústria também continuam num patamar elevado. O economista Rafael Barroso, do Grupo de Conjuntura da UFRJ, lembra que, na indústria de bens de capital, apenas o segmento de máquinas agrícolas registrou recuo na produção em fevereiro, segundo a última pesquisa do IBGE.
Já Flávio Castelo Branco, coordenador de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), acredita que, apesar dos indicadores recentes da indústria não refletirem um impacto dos juros, eles podem afetar as expectativas:
¿ A TJLP, que é o custo de captação das empresas, parou de cair há mais de um ano. A agenda tributária para facilitar investimentos também não avançou mais. Esse cenário pode postergar investimentos.
Convidados para o mesmo seminário, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, deram ontem opiniões diferentes sobre o aperto monetário do Banco Central. Appy disse que os empresários devem conter sua ¿ansiedade¿ com as ações de curto prazo, porque seu ¿custo¿ será compensado pela estabilidade no longo prazo. Já Furlan aproveitou uma crítica aos empresários para alfinetar o BC:
¿ São muito conservadores nas suas projeções, mais ou menos como o BC.