Título: Condoleezza chama Brasil de potência
Autor: Eliane Oliveira, Jailton de Carvalho e José Passos
Fonte: O Globo, 27/04/2005, O País, p. 3

Governos Bush e Lula fazem parceria pela democracia na América do Sul

Ocupante do cargo mais importante do gabinete do presidente George W. Bush, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, iniciou ontem visita oficial de dois dias ao Brasil fazendo elogios ao país e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Condoleezza disse que os Estados Unidos vêem com bons olhos o fortalecimento do Brasil no cenário mundial e chegou a chamar o país de parceiro e potência regional. Ao se referir a Lula, com quem se encontrou no início da noite, disse que o brasileiro é um exemplo de chefe de Estado capaz de combinar democracia com justiça social. Os dois países, em comunicado conjunto, disseram que trabalharão em conjunto em defesa da democracia na América do Sul.

¿ O Brasil é uma potência regional que caminha rapidamente para se tornar uma potência mundial ¿ disse a secretária de Estado, durante encontro na embaixada dos EUA com um grupo de crianças e atletas brasileiros, entre os quais a ginasta Daiane dos Santos.

Durante o vôo que a levou a Brasília, a secretária de Estado disse aos repórteres que a acompanhavam que ¿esperava ansiosamente¿ o encontro com Lula:

¿ Queremos ter boas relações com o Brasil. Queremos trabalhar com eles (os brasileiros) para resolver problemas comuns (aos nossos países). O Brasil é uma grande democracia multiétnica, como os Estados Unidos, tem muitas das mesmas raízes que encontramos nos Estados Unidos: raízes latinas, africanas, européias, que se misturam para formar uma população culturalmente diversa e extremamente interessante.

Mais tarde, após reunião com o chanceler Celso Amorim, ela fez questão de repetir os elogios não apenas ao governo Lula, mas também ao papel de líder que o Brasil tenta conquistar na região. Segundo ela, um país amigo como o Brasil não causa receio aos americanos.

¿ O Brasil é um exemplo a ser adotado. O presidente Lula adotou políticas sólidas, mas se preocupa com aqueles que vivem às margens da sociedade, com a inclusão social ¿ disse Condoleezza, que destacou o fortalecimento do país:

¿ O papel do Brasil na região é crescente e o país tende a se fortalecer no mundo inteiro. Por isso, os EUA vêem com bons olhos o fortalecimento do Brasil.

Durante encontro de 30 minutos no Palácio do Planalto, o presidente Lula e a secretária de Estado concordaram que o melhor caminho para a região é o aumento do comércio exterior, o desenvolvimento econômico e a consolidação da democracia. O porta-voz da Presidência, André Singer, disse que Lula reiterou o convite para que o presidente Bush visite o Brasil. Condoleezza, segundo Singer, informou que Bush quer vir ao Brasil e está estudando a data mais conveniente.

Singer disse que a situação da Venezuela e do Equador foi mencionada, mas ¿sem o aprofundamento desses temas e dentro de uma perspectiva comum de crescimento econômico e de consolidação da democracia na região¿. O porta-voz disse ainda que Lula e Condoleezza Rice ressaltaram a importância de uma ajuda conjunta à África.

Em entrevistas, Condoleezza afirmou que o Brasil é um parceiro na consolidação da democracia na América Latina. E ressaltou que o governo brasileiro tem procurado, com esforço e boa vontade, estender os benefícios econômicos e sociais aos excluídos.

A secretária de Estado disse que seu país admira o trabalho que está sendo feito sob a coordenação dos brasileiros no Haiti. E afirmou que a cúpula de chefes de Estado da América do Sul e dos países da Liga Árabe, que acontecerá em Brasília dias 10 e 11 do mês que vem, pode ser uma forma de o Brasil contribuir para a paz no Oriente Médio.

¿ Desejamos a integração entre o mundo árabe e as diversas regiões do mundo. O mundo árabe está se transformando e não é à toa que temos vários acordos de livre comércio com esses países ¿ disse a secretária.

¿ Podemos, sim, contribuir para o processo de pacificação da região, com a cúpula de chefes de Estado ¿ afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

As declarações de Condoleezza soaram como música aos ouvidos de Amorim e de Lula. Recentemente, o Brasil foi derrotado na Organização Mundial do Comércio (OMC), ao não conseguir emplacar seu candidato ao posto de diretoria-geral da OMC, o embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa. E perdeu por causa dos países sul-americanos, inclusive os do Mercosul, que preferiram apoiar o uruguaio Pérez del Castillo.

Apesar dos elogios, a secretária de Estado não inovou quando as discussões com o governo brasileiro chegaram à reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Assim como os demais integrantes do governo Bush, ela disse que seu país defende uma reformulação na ONU, especialmente do ponto de vista conceitual, e adiantou que EUA e Brasil compartilham idéias semelhantes. No entanto, não comentou a candidatura brasileira a uma vaga como membro permanente do conselho.

¿ Queremos que a ONU seja o mais sólida possível, combatendo armas de destruição em massa, o terrorismo e lutando pela redução da pobreza e por justiça social ¿ resumiu.

Outro assunto que havia sido praticamente esquecido na agenda de prioridades dos dois países é a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Condoleezza e Amorim anunciaram que Brasil e EUA, que dividem a presidência das negociações no hemisfério, pretendem retomar as conversas logo.