Título: AMEAÇA A UM DOS ÚLTIMOS PARAÍSOS
Autor: Cristiane de Cássia
Fonte: O Globo, 28/04/2005, Rio, p. 12

APA de Guapimirim concentra a maior parte dos manguezais remanescentes

Criada há quase 21 anos, não é à toa que a APA de Guapimirim é conhecida como um dos maiores paraísos ecológicos do Rio. No local vivem 172 espécies de aves, muitas delas marinhas, e pelo menos 70 de peixes. Além da exuberância da fauna - a APA também é habitat de um sem-número de capivaras (incluindo a ilustre ex-habitante da Lagoa), jacarés e caranguejos - a região guarda hoje um pedacinho do passado. Ali sobrevive a maior parte dos manguezais remanescentes da Baía de Guanabara. Segundo cálculos do geógrafo Elmo Amador, dos 280 quilômetros quadrados de vegetação de mangue que a baía exibia na época do Descobrimento, restam apenas 80. Destes, 70 estão na APA de Guapimirim e os dez restantes, espalhados no entorno do espelho d'água. Amador teme que o vazamento de diesel ocorrido anteontem contribua para matar mais vegetação. Mas a possibilidade de morte das três espécies de mangue da região, que chegam a 15 metros de altura, não é o único dano possível:

- A morte da vegetação vai alterar todo o ciclo do siri, do camarão e do caranguejo. Além disso, o mangue ajuda a segurar sedimentos, não deixa a baía assorear tanto. Se afetar muito a vegetação, o vazamento de diesel será fatal para a Baía.

Diretor da APA de 140 quilômetros quadrados, Breno Herrera diz que o derramamento de óleo atingiu justamente a região cortada pelo Rio Caceribu, um dos últimos preservados que deságuam na baía:

- A área afetada é justamente a mais conservada. Lá há 20 quilômetros quadrados de manguezais primários, que nunca sofreram corte ou retirada - lamenta.

Em 2000, um vazamento de óleo refinado da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc) atingiu 10% da APA, matando peixes, crustáceos e manguezais.