Título: PF INDICIA DONO DO BANCO SANTOS POR CRIME CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 28/04/2005, Economia, p. 29

Edemar Cid Ferreira foi incluído no processo sobre Arrieta, fraudador do INSS

SÃO PAULO. O dono do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira, foi indiciado ontem pela Polícia Federal por crime contra o sistema financeiro. Após depoimento sigiloso de uma hora e meia na sede da Superintendência da PF, em São Paulo, pela manhã, os delegados federais responsáveis pela Operação Tango - deflagrada para apurar fraudes contra a Receita Federal - decidiram indiciá-lo no mesmo processo que investiga o argentino César de La Cruz Mendoza Arrieta, considerado um dos maiores fraudadores do INSS, de onde teria desviado R$1,5 bilhão.

Segundo a polícia, uma das empresas que pertencem ao Banco Santos, a Vale Couros Trading S.A., depois transformada em Vale Trading S.A., teria sido utilizada por Arrieta para produzir créditos referentes a exportações inexistentes e vendê-los a empresas com dificuldades financeiras, como O GLOBO informou em 30 de novembro de 2004. No depoimento, no entanto, Ferreira teria negado o envolvimento nas denúncias. O Banco Santos adquiriu a totalidade das ações da Vale Trading S.A. em 30 de junho de 2004. Antes, disseram testemunhas à polícia, a empresa teria pertencido a Arrieta.

O advogado de Edemar, o criminalista Arnaldo Malheiros Filho, acompanhou o depoimento e disse considerar o indiciamento um "absurdo sem o menor sentido". Ele explicou que a decisão de manter como propriedade do banco todos os créditos tributários suspeitos foi uma decisão do interventor. Em novembro do ano passado o Banco Central (BC) decretou intervenção no Banco Santos e na Santos Corretora de Câmbio e Valores em razão do comprometimento da situação financeira da instituição. A estimativa é de que o rombo no Santos passe de R$3 bilhões.

- Foi o interventor que decidiu devolver as ações da empresa e manteve na propriedade do banco todos os créditos tributários, que sequer chegaram a ser compensados - disse o advogado, garantindo que Edemar não pretende sair do país. - Ele, inclusive, já cumpriu 36 intimações jurídicas e vai responder a quantas precisar.

O depoimento de Edemar na sede da Superintendência da PF em São Paulo foi marcado pelo sigilo. Assessores e delegados diziam não ter qualquer informação sobre a presença de Edemar ou de outros três empresários, também ouvidos ontem, na sede da PF. Delegados federais de outros estados acompanharam os depoimentos. Somente hoje a direção da PF deve divulgar informações sobre o indiciamento dos envolvidos na Operação Tango.

Operação Tango prendeu seis no Rio e em São Paulo

A PF iniciou a Operação Tango há pouco mais de duas semanas, com o objetivo de desmantelar uma quadrilha especializada em crimes financeiros, com ramificações em seis estados (Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Tocantins e Paraíba). Na ocasião, foram mobilizados 300 policiais para cumprir dezenas de mandados de prisão e de busca e apreensão. No Rio, foram detidos o advogado Paulo Renato Telles Primo e Siegfred Waldemar Max Franz Griesbranch, envolvidos com a quadrilha. Em São Paulo, a PF prendeu Renê Cabral, Marcelo de Oliveira Batista, Ricardo Augusto Godoy e Márcio José Pavan.

Legenda da foto: EDEMAR, DO SANTOS: indiciamento absurdo, segundo seu advogado