Título: CHINA: TAPETE VERMELHO PARA ANTIGO INIMIGO
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 28/04/2005, O Mundo, p. 32
Pela primeira vez, líder de nacionalistas derrotados por comunistas em 1949 pisa no país. Hoje ele é aliado em Taiwan
PEQUIM. Lien Chan, presidente do Kuomintang (KMT) - o partido nacionalista expulso para a ilha de Taiwan quando o Partido Comunista da China (PCC) conquistou o poder em 1949, após a guerra civil - desembarcou ontem em Nanquim, no sul da China, fazendo História. Trata-se do primeiro líder do Kuomintang a visitar a China desde a guerra civil. Nanquim foi a capital do país durante o governo nacionalista (de 1911 a 1949) e enquanto comunistas e nacionalistas davam uma pausa em suas escaramuças para juntos lutarem contra a invasão japonesa na Segunda Guerra Mundial.
Nada menos que 400 jornalistas chineses estão acompanhando a viagem de Lien, iniciada ontem por Nanquim. Todos os passos dele são acompanhados pelas principais redes de TV da China, e o político é recebido como um chefe de Estado, com tapete vermelho, onde quer que apareça. Mas o Kuomintang de Lien hoje é muito diferente do Kuomintang expulso da China em 1949.
Em Taiwan, o KMT é agora o principal aliado de Pequim na luta para anexar a ilha a seu território. Com o tempo, o partido foi abandonando o perfil oposicionista e adotando um ideário mais pragmático, que hoje vê a reunificação com a China como uma forma de se beneficiar do acelerado crescimento do país.
- Hoje (ontem) eu tenho um sentimento no fundo do meu coração de que esse encontro deveria ter acontecido antes - afirmou Lien, ainda no aeroporto internacional de Lukou. - Estou muito feliz por ter dado este primeiro passo histórico.
Apesar da felicidade de Lien, nem todo mundo em Taiwan gostou da iniciativa. Milhares de moradores foram ao aeroporto de Taipé protestar, gritando "Lien traidor quer vender Taiwan" e exibindo cartazes com frases como "Matem Lien, salvem Taiwan". Especialistas calculam que existam cerca de 700 mísseis chineses apontados para Taiwan, agora ainda mais pressionada depois que o Congresso Nacional do Povo da China aprovou em março a chamada lei anti-secessão, que autoriza o uso de força militar caso a ilha pretenda se declarar formalmente independente do país.
Legenda da foto: LIEN CHAN e sua mulher, Fang Yu, em Nanquim: acusado de traição