Título: COMISSÃO AUMENTA APOSENTADORIA DE ARRAES
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 27/04/2005, O País, p. 10

Ex-governador, que hoje ganha R$2.063,01, receberá R$8.314,13 e terá direito a R$150 mil retroativos

BRASÍLIA. Por unanimidade, a 2ª Câmara da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça aprovou ontem a revisão do valor da aposentadoria paga ao ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes de R$ 2.063,01 para R$8.314,13. A comissão garantiu ainda o pagamento de indenização retroativa de R$150 mil.

O relator do caso, o advogado Egmar José de Oliveira, concluiu que Arraes foi vítima de atos de exceção. O ex-governador foi cassado, preso, teve os direitos políticos suspensos pela ditadura e ficou 14 anos exilado na Argélia.

Arraes foi funcionário do extinto Instituto do Álcool e Açúcar (IAA) entre 1934 a 1949, quando entrou na política e licenciou-se. Com o golpe de 1964, então governador de Pernambuco, Arraes foi cassado pelo Ato Institucional número 1 e demitido. Quando voltou do exílio, em 1979, foi aposentado compulsoriamente. Hoje recebe aposentadoria de R$ 2.063,01. O novo valor é equivalente ao salário de auditor fiscal do Tesouro Nacional.

- É inquestionável a perseguição política sofrida por Miguel Arraes - disse o relator.

A sessão foi marcada pela emoção e por elogios a Arraes. Ana Lúcia Arraes, filha do ex-governador, estava presente. Ela é a segunda mais velha dos dez filhos de Miguel Arraes. No seu casamento, em 1964, o pai estava preso em Fernando de Noronha. Os militares permitiram a presença de Arraes na cerimônia, marcada por um fortíssimo esquema de segurança, com policiais cercando a igreja com metralhadoras.

Presidente da comissão critica imprensa

O presidente da Comissão de Anistia, Marcelo Lavenãre, fez ataques à imprensa após a aprovação da anistia e de reparação econômica para a ex-militante da Ação Popular e atual presidente do PCdoB em Belo Horizonte, Gilse Cosenza. Gilse havia feito um discurso criticando uma declaração no último capítulo da novela "Senhora do Destino", da TV Globo. Na cena, o jornalista Dirceu, vivido pelo ator José Mayer, disse que não iria entrar com processo na comissão pedindo indenização por considerar que a sociedade não deveria pagar por suas convicções políticas. O presidente da Comissão de Anistia - que tem sido criticada por altos valores de indenizações pagas inclusive a quem tem altos salários hoje - aproveitar para atacar a imprensa.