Título: DEPUTADOS PEDIRÃO A REMOÇÃO DE 360 BARRACOS
Autor: Alba Valéria Mendonça
Fonte: O Globo, 27/04/2005, Rio, p. 15

Comissão percorre ferrovia que passa dentro de duas favelas e encaminhará relatório ao Ministério das Cidades

Foi uma viagem curta, porém conclusiva. Em pouco mais de uma hora, representantes da Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara de Deputados, de sindicatos de portuários, de associações de moradores do Jacarezinho e das polícias Civil e Federal percorreram de trem os 3,5 quilômetros da parte mais crítica da ferrovia administrada pela MRS Logística, que corta as favelas Parque Arará e Jacarezinho. As observações resultantes da viagem vão constar de um relatório que a comissão enviará ao Ministério das Cidades, pedindo recursos para a remoção de cerca de 360 dos mais de dois mil barracos que põem em risco a operação da ferrovia.

No trecho da ferrovia que passa pelas duas favelas - ao lado das avenidas Brasil e Dom Hélder Câmara - algumas casas foram construídas a cerca de 30 centímetros da linha. Segundo a representante dos moradores do Jacarezinho, Delir de Souza Silva, em março duas pessoas morreram atropeladas pelo trem. Em agosto passado, um rolo de aço que não estava centralizado no vagão destruiu 30 barracos durante a passagem do trem.

- A gente não quer mais nada. Só pede a remoção. Os atropelamentos na linha são freqüentes. Vivendo ao lado da linha, estamos com o pé na cova - desabafou Delir.

Polícia dá segurança durante a vistoria

A faixa de domínio - distância ideal de segurança - para o transporte de cargas deveria ser de 15 metros. Além do risco de atropelamento para os moradores das favelas, a proximidade das casas dá prejuízo à ferrovia, devido ao roubo de cargas e à falta de espaço para expansão da linha. Passando por dentro das favelas, os trens ficam sujeitos ao ataque de traficantes. Ontem, oito policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) acompanharam a viagem para garantir a segurança da comissão durante a vistoria.

Presidente da MRS Logística, Júlio Fontana Neto diz que, desde a privatização da linha, há oito anos e meio, vem enfrentando problemas com a invasão da área da ferrovia pelas favelas. Os representantes dos sindicatos dos portuários temem que os problemas com a falta de segurança da ferrovia façam com que as empresas optem cada vez mais por escoar seus produtos através dos portos de Vitória ou de Santos. Com isto, cerca de 4.200 portuários estariam com seus empregos ameaçados.

O deputado Júlio Lopes disse que o objetivo da comissão é remover as famílias que vivem mais próximas da linha férrea. Segundo ele, a Aeronáutica já teria concordado em ceder um terreno de 12 mil metros quadrados, na Avenida Brasil, para a abrigar essas famílias.

Legenda da foto: COM FUZIL, um policial vigia da janela do trem. Oito homens da Coordenadoria de Recursos Especiais acompanharam a comissão