Título: TEMENDO 'AGENDA NEGATIVA', LULA DÁ 1ª COLETIVA
Autor: Cristiane Jungblut e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 29/04/2005, O País, p. 8

Presidente passou o dia se preparando e pode pedir desculpas por ter dito que povo deve 'levantar o traseiro' contra juros

BRASÍLIA. No Salão Oeste do Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concederá, às 10h30m de hoje, sua primeira entrevista coletiva em dois anos e quatro meses de governo. Será a primeira vez que Lula responderá, num mesmo encontro, a perguntas de representantes dos principais segmentos da mídia: jornais, rádios e emissoras de televisão. Ontem, Lula passou o dia em reunião com ministros e assessores se preparando para a entrevista. A maior preocupação dos assessores e do próprio Lula é com a "agenda negativa" que tem se ampliado nos últimos dias.

A "agenda negativa" é composta por temas difíceis que afetam o governo, como juros altos, denúncias contra o ministro da Previdência, Romero Jucá, e pressão dos militares por reajuste salarial, além da polêmica ligação de Lula com o presidente venezuelano Hugo Chávez.

A preocupação com o episódio Jucá ficou clara com o fato de o ministro da Previdência ter sido chamado ontem pelo presidente para uma conversa na Granja do Torto, onde Lula passou a manhã. O presidente ainda se encontrou ao longo do dia com os ministros do núcleo de coordenação: José Dirceu (Casa Civil), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), Antonio Palocci (Fazenda) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência).

O próprio Lula admitiu, nas conversas, que este era o "pior momento" para fazer uma coletiva, mas disse que não voltaria atrás. Nas conversas preparatórias, chegou a treinar respostas para explicar a sua maior polêmica da semana: o discurso em que disse que o brasileiro tem que "levantar o traseiro" contra os juros altos. Ele foi aconselhado por assessores a pedir desculpas e explicar a expressão infeliz. Essas explicações poderão ser dadas por Lula logo no início da coletiva, no curto pronunciamento que fará na abertura.

Duda Mendonça assessorou Lula

Lula também teve a ajuda do publicitário Duda Mendonça e do porta-voz da Presidência, André Singer, para se preparar para a coletiva. Os dois estiveram com o presidente na Granja do Torto. Duda, segundo integrantes do governo, também acertou com o presidente que haverá um pronunciamento oficial no domingo, em comemoração ao 1º de Maio, Dia do Trabalho. Em cadeia nacional de rádio e TV, enfatizará o aumento do salário-mínimo para R$300. O presidente, confirmaram seus auxiliares, conversou ontem com assessores e ministros sobre os temas que dominam a agenda e a mídia diariamente.

Num clima de expectativa e tensão, integrantes do Planalto avaliavam que a coletiva deve mesmo se pautar pela chamada "agenda negativa" do governo nos últimos dias. Preocupados com as denúncias contra Jucá, setores petistas chegaram a defender sua demissão. Mas a proposta foi rejeitada no Planalto. Um ministro petista lembrou que o PMDB de Jucá foi fundamental, no Senado, para barrar a CPI do caso Waldomiro Diniz.

Esta está sendo considerada a primeira entrevista coletiva porque será a primeira vez que o presidente falará, ao mesmo tempo, para todos os tipos de mídia. Até agora, Lula só tinha concedido entrevistas setoriais: a emissoras de rádio duas vezes e a colunistas de jornais uma outra vez. O presidente também já falou com correspondentes estrangeiros.

AO VIVO: A entrevista será transmitida a partir das 10h30m pela GloboNews e pela Rádio CBN. A empresa de comunicação do governo federal, a Radiobras, também fará a transmissão ao vivo, tanto pelo canal de televisão, TV Nacional, como pela Rádio Nacional.