Título: POUSO FORÇADO PARA A VASP
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Fonte: O Globo, 06/10/2004, Economia, p. 21

Infraero exige pagamento de tarifas em dinheiro. Companhia demite 380 e corta 7 rotas

Ogoverno decidiu apertar o cerco ao dono da Vasp, Wagner Canhedo, e determinou que a partir da zero hora do próximo dia 13 (quarta-feira) a empresa somente poderá pousar nos aeroportos administrados pela Infraero se fizer o pagamento à vista e em dinheiro. A decisão foi tomada ontem durante uma reunião entre o presidente da Infraero, Carlos Wilson, e o ministro da Defesa, José Viegas. Durante o encontro, o governo também foi informado de que a General Electric (GE) pediu ontem à Justiça de São Paulo a falência da empresa. A dívida com a GE ¿ por prestação de serviços de leasing e turbinas ¿ está em torno de US$30 milhões.

A decisão do governo foi motivada pela descapitalização da Infraero, que vinha sendo complacente com as companhias aéreas em dificuldades na hora de cobrar tarifas de uso de aeroportos. Segundo fontes na Esplanada dos Ministérios, o repasse de dividendos da Infraero ao Tesouro deve cair mais de um terço este ano devido à inadimplência das empresas.

Antes mesmo dessas notícias virem à tona, a situação já parecia complicada para a companhia aérea. A Vasp confirmou ontem a demissão de 380 funcionários e a devolução de sete rotas em território nacional, numa medida que representa a redução de 11% do seu número de vôos.

Infraero cobrará dívida na Justiça

De acordo com o Sindicato Nacional dos Aeronautas, desse total, demitido de sexta-feira até ontem, 200 são pilotos e comissários de bordo. A presidente do Sindicato dos Aeroviários, Selma Balbino, disse ontem que o corte atingirá 30% dos 5,1 mil trabalhadores da empresa, sendo a maioria de aeroviários. Na sexta-feira, a central de reservas de Recife foi desativada e 50 funcionários demitidos. De acordo com a Vasp o corte é parte do plano de reestruturação da empresa, que decidiu concentrar a central de reservas em São Paulo.

Ao fazer os cortes, a Vasp justificou, ainda, que precisava adequar-se ao tamanho da frota, que diminuiu. Segundo a sindicalista, a Vasp fechou seis lojas no Rio. A presidente do Sindicato de Aeronautas, Graziella Baggio, afirma que a empresa descumpriu o acordo que tinha feito com os empregados no dia 28 de setembro, que garantia a estabilidade no emprego por, no mínimo, 90 dias.

Em uma reunião na Delegacia Regional do Trabalho (DRT) em São Paulo, Graziella pediu à representante da Vasp, a advogada Maralice Maia Tripoli, o cumprimento do acordo. Mas, de acordo com o sindicato, nada foi resolvido e uma nova reunião foi marcada para a próxima quinta-feira. No mesmo dia, haverá uma nova assembléia dos aeronautas, que vão avaliar a possibilidade de uma nova paralisação.

Durante a reunião ontem com Viegas, ficou acertado ainda que a dívida da Vasp com a Infraero em tarifas de pouso e decolagem de R$11 milhões será cobrada judicialmente. Além dessa dívida, a Infraero cobra outros R$750 milhões também na Justiça.

Na semana passada, o Ministério da Defesa prorrogou para abril de 2005 o prazo para que a Varig assine seu contrato definitivo de concessão com o governo. O prazo está previsto para acabar no próximo dia 10. O mesmo tratamento, no entanto, não foi dado à Vasp, que até agora não sabe o que vai acontecer com as suas rotas na próxima semana.

Linhas desativadas serão redistribuídas

Estão na lista de rotas devolvidas da Vasp Campinas (SP), Londrina (PR), Ilhéus (BA), Ribeirão Preto (SP), São José do Rio Preto (SP), Florianópolis (SC) e Corumbá (MS). A assessoria de imprensa do DAC informou que as linhas desativadas serão distribuídas para outras companhias.

A Vasp informou que as rotas de Ilhéus e Ribeirão Preto foram desativadas nesta semana e o restante será cancelado até o dia 18 deste mês. Ainda de acordo com a Vasp, a empresa já orientou a central de reservas e as agências de viagem a não emitirem bilhetes para estes destinos e garantiu que fará alguns vôos para atender passageiros com passagem comprada que não puderem ser acomodados em outras companhias.

No mês passado, o Departamento de Aviação Civil (DAC) determinou a retirada de seis aviões 737-200 por motivo de segurança, atendendo a orientação da fabricante Boeing. Os aviões estouraram o ciclo de pousos e decolagens. Outros quatro estão na mira do DAC porque estão voando com as turbinas traseiras (APU) inoperantes. Essas turbinas são responsáveis pelo gerador de energia dos aviões e a falta de funcionamento pode sobrecarregar as turbinas principais.

Na avaliação de especialistas do setor, o cancelamento das linhas da Vasp não vai afetar o mercado, já que as cidades listadas, com exceção de Corumbá, já são atendidas por TAM, Gol e Varig. Mesmo os passageiros de Corumbá não serão prejudicados porque há empresas regionais na área,dizem os analistas.

Outro golpe na empresa foi a determinação da Justiça do Trabalho de São Paulo de multa de R$14 milhões, no prazo máximo de dois dias, por não pagamento de direitos trabalhistas. Segundo a Procuradora do Trabalho Vivian Rodriguez Mattos, uma fiscalização realizada pela Delegacia Regional do Trabalho constatou que a empresa descumpriu ordem da Justiça e não pagou salários e horas extras devidas aos funcionários, além de cesta básica, vale-alimentação, vale transporte.