Título: TROCA-TROCA NA EQUIPE ECONÔMICA
Autor: Martha Beck, Gerson C., Regina A., Valderez C.
Fonte: O Globo, 29/04/2005, Economia, p. 21

Reforma traz para o cargo de braço-direito de Palocci ex-assessor de Malan e FH

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, promoveu ontem a maior reforma na equipe econômica desde o início do governo Lula, com três alterações em cargos-chave da pasta e uma na diretoria do Banco Central (BC). A mais importante foi a saída de Bernard Appy, segundo da hierarquia, da secretaria-executiva do ministério, cargo que passará a ser ocupado pelo atual representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), Murilo Portugal, um dos mais próximos colaboradores do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de Pedro Malan. Como Portugal é experiente executor de políticas econômicas e hábil negociador, a vinda dele para ser braço-direito de Palocci foi considerada um sinal de que o ministro quer fortalecer a gestão executiva e política do ministério. Também servirá de coringa na equipe - na qual ficará abaixo apenas de Palocci e do presidente do BC, Henrique Meirelles.

As mudanças foram desencadeadas pelo pedido de demissão do secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa, que Palocci gostaria de manter no cargo. No entanto, segundo fontes do governo, Lisboa vinha perdendo força nos debates, por defender um afrouxamento da política monetária e uma orientação mais desenvolvimentista às políticas públicas. Para seu lugar, foi deslocado Appy, que disse ontem em entrevista que se considera mais afinado com as funções de formulador de política pública do que com o cargo executivo que estava ocupando.

Seguiu-se, então, uma grande dança das cadeiras. Portugal veio para o lugar de Appy. Para o lugar de Portugal, embarca para Washington Eduardo Loyo, atual diretor de Estudos Especiais do BC, cargo que será ocupado por Alexandre Tombini, funcionário de carreira da instituição que desde 2001 atuava como membro da diretoria-executiva da representação brasileira no FMI - trabalhando muito próximo a Portugal.

Palocci começou a entrevista de anúncio das mudanças brincando. Ele afirmou que estava atendendo a um pedido da mulher de Lisboa, grávida de oito meses e que mora no Rio. Segundo ele, Lisboa já havia manifestado o desejo de deixar Brasília para ficar com a família.

- O Marcos foi fundamental para a política econômica, foi um formulador muito eficiente - Palocci.

Apesar das mudanças, Palocci assegurou que não haverá mudança na condução da política econômica:

- Eu queria dizer que as mudanças desse momento são mudanças de pessoas da mesma equipe, portanto, não há mudanças de política econômica. Houve uma construção. Dialoguei com os nossos secretários para fazer uma construção aperfeiçoada da equipe. Esse rearranjo dá uma construção inovadora e vamos em frente com essa política.

Portugal é visto como sucessor de Meirelles

Ele também afirmou que não deve haver mudança no perfil do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC com a saída de Loyo - que formava a trinca conservadora da instituição com os diretores Afonso Bevilaqua e Alexandre Schwartsman - e a chega de Tombini:

- Estamos de fato com muita certeza na condução da política monetária. Eu não qualifico o BC de conservador ou não conservador. O mais importante é termos a certeza de estarmos conduzindo um processo de crescimento longo.

Nos bastidores, a avaliação é que a ampla reforma também ajudará no equilíbrio de forças na equipe econômica, cujo principal nome hoje é Joaquim Levy, secretário do Tesouro Nacional. Espera-se que Portugal dê mais gás às articulações políticas em torno de temas considerados importantes por Palocci mas que sofrem resistências até mesmo no governo - como autonomia do BC e a agenda microeconômica. Portugal também é considerado, segundo interlocutores, um inimigo da política de juros altos, por considerar que ela atrapalha o processo de redução e melhora do perfil da dívida pública.

- Vir para a secretaria-executiva é um desafio que aceito com grande prazer. Quero agregar minha pequena e modesta contribuição ao governo e vou fazer esforço para não deixar a bola cair - disse Portugal ontem durante o anúncio.

O ministro disse que todo o processo foi discutido com Meirelles, que está na Colômbia. Palocci também defendeu Meirelles em relação às denúncias apresentadas contra ele.

- Até o momento não nos parece que haja qualquer indicação real de irregularidade naquilo que foi levantado (contra Meirelles). Mesmo assim, ele tem dialogado com país e procurou deixar bastante transparente seu procedimento profissional.

Na hipótese de Meirelles sair do BC para concorrer ao governo de Goiás, dada como quase certa nos meios políticos, Portugal poderia assumir o BC, garantem fontes do governo.