Título: DECLARAÇÃO DE LULA PROVOCA REAÇÕES
Autor: Ronaldo D"Ercole e Geralda Doca
Fonte: O Globo, 27/04/2005, Economia, p. 22
Empresários e políticos criticam afirmação de que brasileiro é acomodado
BRASÍLIA e RIO. A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anteontem, de que o brasileiro precisa procurar juros mais baixos, foi alvo de contestações indignadas e irônicas de empresários e parlamentares. A reação levou o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, a sair em defesa de Lula, reafirmando que "as pessoas têm que se levantar e tomar uma atitude". O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, discorda que o brasileiro seja acomodado.
- Quem paga esses juros é obrigado. Nenhuma pessoa física tem prazer em gastar um tostão no cheque especial e pagar uma fortuna de juros. Nenhuma pessoa jurídica tem o prazer de pagar uma fortuna para captar dinheiro. A sociedade brasileira tem muitas qualidades, como a criatividade, o esforço, o trabalho. Uma coisa que o brasileiro faz pouco é ficar sentado - disse Skaf.
No Senado, as declarações foram ridicularizadas pela oposição. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), apresentou um voto de censura ao "destempero verbal" do presidente.
Virgílio: Lula não põe o 'traseiro' na presidência
- O governo quer resolver com o traseiro o que não conseguiu resolver com o cérebro. E se o presidente Lula entende que dá para usar essa expressão, também vou usá-la. Ele disse que a culpa pelos juros altos é do traseiro dos brasileiros. Direi que é do traseiro do presidente da República. Sua Excelência não se senta, não põe seu traseiro na cadeira presidencial, não se detém no estudo dos problemas nacionais nem a sabatinar seus ministros - disse Virgílio.
O vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), também fez duras críticas.
- O Lula é uma máquina de dizer bobagens, um manancial de lugares comuns, uma fonte inesgotável de metáforas de quarta categoria. Esse negócio de levantar o traseiro é um insulto ao cidadão que morre no cheque especial - atacou.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria, Armando Monteiro Neto, foi outro a discordar de Lula:
- É muito simplismo jogar para o consumidor a responsabilidade pelos juros.
No meio do bombardeio dos empresários, todos presentes a evento na CNI, Furlan disse que o brasileiro só reage em determinadas situações:
- As pessoas só se mobilizam quando as medidas são ruins. Quando são boas, elas ficam passivas. Temos no Congresso 500 projetos positivos para fazer o país crescer, ninguém se mobiliza em torno deles. Então as pessoas têm que se levantar e tomar atitude.
No Rio, o vice-presidente José Alencar defendeu Lula, dizendo que as taxas dos bancos são um "assalto", e que cabe à população não pagá-las.