Título: BC INDICA QUE TAXA DE JUROS CONTINUARÁ SUBINDO
Autor: Enio Vieira
Fonte: O Globo, 29/04/2005, Economia, p. 23

Ata do Copom considera combustíveis, cenário externo e tarifas ameaças ao cumprimento da meta de inflação

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO. O Banco Central (BC) indicou ontem que poderá continuar o aumento dos juros básicos (Taxa Selic) iniciado em setembro de 2004. Segundo a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que subiu a taxa de 19,25% para 19,5% ao ano, a incerteza vem dos riscos para a meta de inflação de 5,1% perseguida pelo BC em 2005: aumentos de tarifas, piora na expectativa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em abril e instabilidade do mercado internacional, sobretudo petróleo. Assim, o Copom vai monitorar o mercado até a reunião de maio.

"O Comitê avaliou que somente a perspectiva de manutenção da taxa de juros básica por um período suficientemente longo no nível estabelecido em sua reunião de março não proporcionaria condições adequadas para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas", diz a ata.

Em março, havia a expectativa de que a Selic ficaria em 19,25% por um bom tempo. Para o economista Elson Teles, da Fides Asset Management, ainda há chances de manutenção dos juros em maio, mas pode haver alta de 0,25 ponto percentual. Segundo ele, o BC projetou em dezembro inflação de 1,3% no segundo trimestre de 2005. Só em abril, estima-se IPCA de 0,8%.

A previsão de mercado está em 6,15%, bem acima da meta de 5,1%, sem considerar mais um reajuste da gasolina. Segundo a ata, os preços da gasolina no Brasil estão abaixo dos níveis internacionais, apontando um eventual reajuste.

No cenário externo, permanece o temor de aumento dos juros americanos e de piora na avaliação de risco de grandes empresas (como a General Motors), o que provocaria fuga dos títulos de emergentes, mas o BC não vê uma crise financeira.

A alta dos preços internacionais do petróleo se refletiu no Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), que passou de 0,85% em março para 0,86% em abril. O querosene para motores, por exemplo, subiu 12,21%.

A Selic também foi tema do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que disse que, juntos, ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente José Alencar têm força para derrubar as taxas de juros no país. Para Severino, ao dizer que os brasileiros deveriam "levantar o traseiro" e procurar juros menores, Lula se mostrou solidário com a sua posição e a de Alencar, que na quarta-feira disseram que a decisão sobre a Selic não deveria ser só do Copom.

Bovespa tem queda de 3,18%, a maior desde janeiro

Já o vice-presidente adotou um tom mais cauteloso:

- Não significa que a Câmara possa tomar decisão de júri, substituindo o Copom. O que nós precisamos é que o Conselho Monetário Nacional (CMN) tenha representação setorial e regional, como já acontece, por exemplo, nos EUA.

O presidente Lula, por sua vez, admitiu que os juros altos não são suficientes para controlar a inflação. Em entrevista gravada no último dia 20 para o programa "Repercute", da CUT, ele diz que o Brasil vive um momento de contradições:

- De um lado você aumenta os juros para tentar conter a demanda, do outro se injeta dinheiro na economia via crédito consignado - disse Lula.

Mas o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, saiu em defesa das decisões do BC:

- O fato de esse governo ter decidido ter o controle da inflação como processo prioritário é o que pode dar ao trabalhador a segurança de que o Brasil vai crescer a longo prazo.

A ata do Copom e o crescimento menor dos EUA levaram pessimismo ao mercado. A Bovespa caiu 3,18%, a maior queda desde os 3,40% de 4 de janeiro deste ano. O dólar, estável a maior parte do dia, encerrou o dia em alta de 1,55%, a R$2,555, puxado, em parte, pela fuga dos investidores estrangeiros da Bovespa. O risco-Brasil avançou 3,58%, para 462 pontos centesimais. O Global 40, título da dívida mais negociado, caiu 1,20%, para 112,89% do valor de face; e o C-Bond cedeu 0,367%, para 99,56% do valor de face.

COLABORARAM Vagner Ricardo e Soraya Aggege