Título: Jucá e Meirelles ficam até o fim dos processos
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 30/04/2005, O País, p. 4

Lula disse que sabia das acusações contra o ministro da Previdência e que não tira presidente do BC nem se STF abrir investigação

BRASÍLIA. Alvos de denúncias de irregularidades como desvio de recursos públicos e sonegação de impostos, o ministro da Previdência, Romero Jucá, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foram defendidos ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Perguntado sobre os dois casos, o presidente disse que vai esperar o resultado dos processos para decidir se os manterá ou não na equipe de governo. Seu argumento é de que todos têm direito a ampla defesa. Lula foi enfático ao afirmar que não demitirá Meirelles mesmo que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida abrir processo de investigação das denúncias de sonegação fiscal e evasão de divisas.

- Se o STF abrir uma investigação, é uma investigação. Eu só posso tomar uma atitude quando houver uma conclusão. O que eu quero para mim, eu faço para os outros. Não quero ser julgado antecipadamente, eu quero que me dêem o direito de defesa - disse.

Lula reconheceu que sabia das acusações contra Jucá

Meirelles, que foi presidente do BankBoston, é acusado de irregularidades na declaração do Imposto de Renda e de movimentar dinheiro em paraíso fiscal. Jucá enfrenta denúncias de desvio de recursos públicos e de uso de funcionários da Prefeitura de Boa Vista, administrada por sua mulher, Teresa Jucá, na campanha eleitoral.

Segundo Lula, até que a Justiça julgue os processos contra Jucá, ele será mantido no cargo para levar adiante sua missão: reduzir o déficit da Previdência. Na entrevista, Lula reconheceu que sabia das acusações antes de nomeá-lo. Disse que o próprio ministro apresentou-lhe os processos e documentos mostrando as providências tomadas em sua defesa. Jucá esteve com o presidente na Granja do Torto, quinta-feira, quando ele se preparava para a coletiva:

- Por enquanto, o ministro Jucá está cumprindo uma tarefa que dei a ele: tentar, de uma vez por todas, acabar com o déficit da Previdência Social. Até prova em contrário, vai continuar fazendo este trabalho.

Luiz Inácio falou...

ROMERO JUCÁ: Eu primo por entender que todo ser humano é inocente até prova em contrário. Você não pode crucificar ou decretar pena de morte para ninguém por causa de denúncia. Há denúncia, tem que apurar. Quando discuti com o PMDB e o ministro Jucá veio a ser ministro, antes de ele aceitar, ele me trouxe uma série de acusações contra ele e me trouxe uma série de documentos provando o que já tinha feito. (...) Sou obrigado, até por convicção e respeito ao direito de prova das pessoas, a que as pessoas sejam julgadas corretamente, analisadas corretamente. Na hora em que tiver esse veredicto, tomarei a posição que tiver que tomar. Por enquanto, o ministro Jucá está cumprindo uma tarefa que dei a ele, que é o de tentar, de uma vez por todas, acabar com o déficit da Previdência Social.

HENRIQUE MEIRELLES: Se o Supremo Tribunal Federal abrir uma investigação, é uma investigação. Só posso tomar uma atitude quando houver uma conclusão. O que quero para mim, faço para os outros. Não quero ser julgado antecipadamente, quero que me dêem o direito de defesa. O fato de o Supremo começar a investigar... pode chegar no final e concluir que todas as coisas que foram levantadas contra o presidente do BC não têm procedência. Se eu tiver tirado antes, terei criado um problema político desagradável porque julguei uma pessoa antecipadamente. Então, vamos esperar a decisão do Supremo.