Título: UM LULA-LÁ COLETIVO
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 30/04/2005, O País, p. 4

E não é que a No Ar voltou? Tem político falando na telinha e dá vontade de chegar perto. Será masoquismo? Talvez seja o caso de consultar minha terapeuta. Mas o fato é que a tentação veio de novo e eu tive que assistir à coletiva do presidente Lula.

A primeira conclusão, depois de uma hora de falação, é que o poder realmente envelhece. A gente já tinha visto este fenômeno com o Fernando Henrique, mas ainda não havia prova científica. Podia ser uma coisa específica do DNA de FH. Mas não: Lula ontem parecia um vovô, ainda que um vovô bem sapeca, durante a sabatina dos repórteres. Passaram-se 20 anos na cabeleira dele desde que chegou à Presidência. As madeixas já estavam brancas antes da coletiva, é claro, mas com uma hora em frente a ele fica difícil a gente não reparar, né?

A outra conclusão - nada política, que me desculpe o pessoal "sério" - é que Lula-lá parece o bonequinho do posto. Você lembra do bonequinho do posto, né? Ele virou uma febre anos atrás e se sacudia, animadíssimo, toda vez que se enchia de ar. Lula é um bonequinho do posto que sacode toda vez que é cutucado com vara curta. Nas perguntas mais difíceis, vira o ás da mímica, gesticula bonito, parece até o Marcel Marceau. Junta dedinhos para dizer que a inflação baixou, roda os braços para demonstrar empolgação - nesta hora, me lembrou o estilo-ventilador de Elis Regina cantando "Arrastão" - aponta, coça a cutícula do polegar para dizer que é "unha e carne" com o ministro Antonio Palocci, bota até as mãos nas cadeiras. Bom, pelo menos um bonequinho do posto tenta divertir a gente enquanto a gasolina sobe... É ou não é?

MAKE UP NO AR: Não é má vontade não, mas vocês não acham que faltou corretivo embaixo dos olhos do porta-voz da Presidência e apresentador da entrevista coletiva, André Singer? A olheira do moço parecia a do Gomez, patriarca da "Família Adams".

MOBRAL NO AR: Tudo bem, tudo bem. A gente aqui faz parte do time dos não-preconceituosos, que acham o maior barato a origem proletária do presidente. Mas, a esta altura do campeonato, ele já poderia ter aprendido certas palavras. Não dá para continuar falando: "No Sindicato de São Bernardo, quando fiz esta política, meu adevogado recebeu 1,6% de aumento..."