Título: TRÊS TENTATIVAS DE ENTRAR LEGALMENTE
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 01/05/2005, O País, p. 3

Arquiteto teve visto recusado pelo consulado e resolveu arriscar a sorte

BROWNSVILLE, Texas. Amanhã Alberto começa vida nova num novo país. Ele já tem emprego garantido: o irmão é sócio de outro brasileiro numa pequena firma de construção, que vive basicamente de consertos e reformas de casas na região de Boston.

Alberto tentou entrar legalmente três vezes. Mas não conseguiu o visto no consulado dos Estados Unidos, rejeitado em função de sua renda. Seu salário não era suficiente, na opinião do governo americano, para que ele bancasse uma viagem. Numa das entrevistas um funcionário lhe disse que ele se encaixava num grupo visado: o dos jovens que entram como turistas mas, na verdade, querem obter um emprego no país.

Há três anos ele vinha se preparando para a travessia ilegal, guardando parte de seu salário de projetista numa firma de arquitetura em Campinas (SP). Remessas freqüentes do irmão reforçaram a poupança.

¿ Fazendo a conversão cambial, meu salário nunca ultrapassou os US$400 no Brasil. Agora vou faturar pelo menos US$15 por hora aqui trabalhando com o meu irmão ¿ diz ele.

Alberto ganhará isso fazendo serviços gerais de construção. Receberá mais quando surgir algo em sua especialidade: o irmão se animou a trazê-lo porque ele poderá melhorar o perfil da pequena empresa, fazendo pequenos projetos de reformas e ampliação de imóveis. Esse serviço é caro nos Estados Unidos. A firma poderia oferecê-lo a um preço melhor, ganhando mercado.

Alberto prefere não tornar público seu sobrenome. E, muito menos, mostrar seu rosto num jornal. Ele, afinal, acaba de cair na clandestinidade. Um detalhe o diferencia da maioria dos brasileiros que têm entrado ilegalmente nos Estados Unidos: ele não estava ansioso para se entregar à Patrulha de Fronteira e, assim, obter o que já está sendo chamado de diploma: a notificação para uma audiência judicial daqui a quatro ou seis meses. Preferiu se manter fora do sistema, como o irmão, que chegou cinco anos atrás como turista.

Quem é capturado pela Patrulha da Fronteira é fotografado e tem suas impressões digitais registradas, além de assinar um papel dizendo que se compromete a aceitar a ordem judicial ¿ embora a maioria não pense em fazê-lo, pois raramente um juiz concede a residência, determinando sua deportação.

¿ Se você assina o papel e não cumpre a promessa, está cometendo um crime maior do que a entrada ilegal. Se um dia cair nas malhas da polícia, mesmo para uma simples averiguação, isso logo será descoberto. Aí você vai direto para a cadeia, é deportado e fica fichado aqui para sempre. Se for apanhado na fronteira de novo, vai para a prisão ¿ disse Ernesto Castillo, o chefe da Patrulha de Fronteira em Brownsville. (J.M.P.)