Título: `POR MIM, VOLTARIA DE VEZ, PARA VIVER LÁ¿
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 01/05/2005, O País, p. 4
Rapaz comprou oficina e imóveis com dinheiro poupado nos EUA
POÇOS DE CALDAS, MG. Aos 22 anos, a estudante de Direito Rosiane Costa é uma exceção em sua própria família. Ela é praticamente a única que nunca foi para os Estados Unidos. Nada menos que 65 parentes de Rosiane moram ou moraram na região de Nova York.
Casos como o da família da jovem são comuns em Poços de Caldas. Em qualquer esquina é possível ouvir histórias de gente que foi para os EUA. São pessoas que viajaram apenas com a roupa do corpo e, após alguns anos, tornaram-se prósperos empresários, donos de patrimônios consideráveis.
É o caso de Marcos Leandro Fonseca, de 29 anos. Ele foi pela primeira vez em 1991, aos 17. Com um diploma de técnico em mecânica, Fonseca pediu dinheiro emprestado ao avô, comprou um passaporte falso, deixou a namorada em Bandeira do Sul e foi para Nova York. Seu primeiro emprego foi como quebrador de pedras na construção civil.
¿ Quebrei pedras na marreta por mais de um ano. Era difícil. Ganhava US$50 por dia.
Quatro anos depois, voltou, casou com a namorada e a convenceu a viajar com ele. Depois disso, voltou outras duas vezes. Hoje, tem uma oficina mecânica, casa e três apartamentos. Dos EUA, sente falta de apenas uma coisa: o salário. Apesar de viver confortavelmente com a mulher e a filha de 7 meses, Fonseca ainda pensa em voltar.
¿ Às vezes, tenho medo que meu patrão ligue e faça uma proposta. Por mim voltaria de vez, para viver lá¿ disse.
Se valeu a pena?
¿ Claro. Se não tivesse ido não teria dinheiro nem para comprar um carro.
Mas também existem os fracassos. Casos de gente que vendeu tudo o que tinha, pegou dinheiro emprestado para pagar os coiotes e não conseguiu entrar nos EUA. Ou entrou mas não conseguiu agüentar as privações. Alguns desses casos terminaram em tragédia. Em 2004, três pessoas da cidade morreram ao tentar atravessar a fronteira do México.