Título: PF prevê que Poços de Caldas será maior exportadora de clandestinos
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 01/05/2005, O País, p. 4

Cidade com maior IDH de Minas deve desbancar Governador Valadares do posto

POÇOS DE CALDAS, MG. Conhecida graças às belas praças, aos bosques, às cachoeiras e pelo clima agradável da Serra da Mantiqueira, Poços de Caldas, cidade com o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Minas, está prestes a desbancar Governador Valadares do posto de maior exportadora de brasileiros para os Estados Unidos. A previsão é da Polícia Federal. Segundo a prefeitura, cerca de 26 mil moradores da cidade foram tentar a sorte nos EUA. Até o início dos anos 90, o número não chegava a dez mil.

O êxodo, porém, ajuda a aquecer a economia com os dólares enviados pelos imigrantes, na maioria ilegais.

¿ Em meu primeiro governo (1988-1993) tivemos que criar frentes de trabalho para combater o desemprego. Meses depois as frentes foram extintas, pois o mercado da construção civil, aquecido pelo dinheiro mandado dos EUA, absorveu a mão-de-obra ¿ lembra o prefeito de Poços de Caldas, Sebastião Navarro (PFL).

Bairros construídos com dinheiro vindo dos EUA

A virada da década de 80 para a de 90 marcou a primeira ida em massa de pessoas da região para os EUA. Afugentados pelo desemprego, eles investiam todo o dinheiro que ganhavam em bens, como imóveis. Foi quando começaram a aparecer os primeiros bairros construídos com dinheiro vindo dos EUA.

O progresso dos pioneiros fez com que os EUA se tornassem uma opção concreta de futuro para dezenas de pessoas, em especial jovens de classe média, desiludidos com a falta de perspectivas no Brasil e iludidos com as promessas de prosperidade nos EUA.

Hoje, as marcas da imigração podem ser vistas em toda a cidade. É difícil encontrar alguém que não tenha um amigo ou parente morando nos EUA. Outdoors anunciam o programa de rádio ¿Nova York, um sonho brasileiro¿, transmitido dos Estados Unidos todas as semanas. Mas a cultura da imigração acoberta as máfias dos chamados coiotes, pessoas ou empresas especializadas em transportar imigrantes ilegais.

Os pacotes custam entre US$8 mil e US$12 mil, conforme o grau de segurança.

¿ Os agenciadores vendem um pacote completo, que inclui transporte até o aeroporto porque a maioria dos imigrantes é formada por gente tão humilde que não conseguiria sozinha sequer fazer o check-in ¿ diz o delegado da PF Sebastião Pujol.