Título: ESQUERDA PLANEJA COMBATER NOVA LINHA PROGRAMÁTICA
Autor: Ilimar Franco e Maria Lima
Fonte: O Globo, 01/05/2005, O País, p. 15

Candidatos querem partido independente do governo Lula

BRASÍLIA. Além de lançar candidaturas de oposição a José Genoino, a esquerda do PT já se movimenta para combater a guinada na linha programática proposta pelo partido.

¿ A política de alianças nos torna refém de um Congresso conservador e fisiológico. Daí a nossa insistência de governarmos com maior participação popular. Temos que explorar no limite as prerrogativas do Executivo, que são enormes num país presidencialista, para que se crie uma sustentação suficiente para pressionar, de fora, o Congresso ¿ diz Raul Pont.

¿ Precisamos de outro tipo de governabilidade, estruturada pela aliança entre nossa força institucional, os partidos de esquerda e os movimentos sociais, e não uma governabilidade do tipo parlamentarista, refém da maioria conservadora do Congresso ¿ afirma Valter Pomar.

Primeiras eleições diretas no PT foram em 2001

Em 2001, quando se realizaram as primeiras eleições diretas para a presidência do PT, as forças que apóiam a candidatura de Genoino fizeram 54,93% dos votos e elegeram José Dirceu. Enquanto isso, os candidatos de esquerda tiveram 30,49% dos votos. Nem mesmo na oposição acredita-se que o Campo Majoritário perderá esta maioria.

Por isso, a tática de Genoino é não polemizar para manter um mínimo de unidade interna. Ele está convencido de que a maioria dos filiados considera positivas as mudanças de discurso do PT desde que Lula chegou ao poder.

¿ Vou concentrar minha campanha na defesa do governo e na crítica aos partidos de oposição, PSDB e PFL. Nas pesquisas, 66% dos entrevistados dizem que o PT mudou para melhor ¿ afirma Genoino.

Mas esta não é naturalmente a visão dos tendências de esquerda. Pont acusa o governo de seguir uma cartilha neoliberal e tributarista, que classifica de antipopular e antinacional. Maria do Rosário também quer mudanças graduais na política econômica e autonomia para o PT diante do governo e quer ser instrumento para acabar com a hegemonia do Campo Majoritário.

¿ Para que o governo consiga fazer a transição necessária para uma nova proposta de ordenamento econômico, com mais ousadia, é preciso que o PT assuma um papel de mais autonomia e pressione por essa transição ¿ diz ela.

Processo de conversão de petistas a um novo PT

Os moderados do PT, com Genoino e Dirceu à frente, pretendem fazer das eleições um processo de conversão dos petistas a um novo PT, que tem como lastro a experiência do governo Lula.

Sob o slogan "O PT deve mudar sem mudar de lado", os moderados do Campo Majoritário consideram o combate à inflação e a garantia da estabilidade instrumentos de sua política social. Mas sugerem que seja mais flexível a meta de inflação, quando afirmam no texto: "A par da administração fiscal consistente, deve-se buscar o caminho progressivo do alívio da política monetária, ampliando todos os espaços possíveis ao impulso da economia".