Título: `Todas as obras devem ter um padrão só¿
Autor: Valderez Caetano
Fonte: O Globo, 01/05/2005, Economia, p. 36

BRASÍLIA. O secretário de Infra-estrutura Hídrica do Ministério da Integração Nacional, Hypérides Macedo, reconhece que muitas obras da pasta não são economicamente viáveis e, portanto, terão que ser abandonadas. Segundo ele, as obras inacabadas podem representar entre R$2 bilhões e R$3 bilhões. Ele afirmou que a maioria foi feita sem qualquer planejamento ou exigências econômicas e técnicas.

Por que há tantas obras inacabadas sem um controle dos governos?

HYPÉRIDES MACEDO: Desde a criação do ministério havia dois programas. O Proágua Semi-Árido foi financiado pelo Bird (Banco Mundial) e pelo JBIC (banco de investimentos japonês). Nunca se irrigou tanto com tão pouco dinheiro (US$250 milhões). Foram mais de dois milhões de hectares irrigados. Mas é diferente quando um programa é financiado por um organismo internacional. Eles fazem exigências muito fortes tanto no aspecto econômico, como financeiro e de meio ambiente. O programa tinha acabado e tivemos de fazer, eu e o ministro (Ciro Gomes), um discurso de cabra-da-peste para que os bancos concordassem em retomá-lo.

O que deu errado no Proágua Infra-estrutura?

MACEDO: O dinheiro que o ministério jogava pelo ralo era o chamado Proágua de Infra-Estrutura, um programa frouxo, sem regras. Nesse programa cabia tudo, barco, navio, não tinha qualidade nem exigência. A maior parte das obras era feita sem projeto. O ministério não precisava contratar projetista, só contratar tratorista. Gastou-se muitos recursos. Bilhões. Tem estado do Nordeste que levou de US$400 milhões a US$500 milhões sem que a obra aparecesse. Tinha obra superfaturada, superdimensionada, programas sem viabilidade técnica, sem relação custo-benefício, obra no lugar que não devia. Só para se ter idéia, conseguimos terminar com R$100 milhões obras cujo valor total era R$1 bilhão.

Quais os exemplos de obras desastrosas?

MACEDO: Tem uma obra, o Tabuleiro de Russas, no Ceará, onde já se gastaram R$100 milhões e não tem nem um hectare irrigado. No projeto Salitre, em Juazeiro (BA), gastaram-se milhões, a obra foi encerrada e chegou-se à conclusão de que o solo não prestava para o plantio. Ao todo, as obras encontradas pelo atual governo somam entre R$2 bilhões e R$3 bilhões.

Quais os planos para melhorar essa situação?

MACEDO: O projeto tem que ser modulado, feito por partes. Não adianta fazer uma grande infra-estrutura e não terminar. Estamos num esforço muito grande para fazer o que for possível. Nem tudo merece ser terminado. Estamos fazendo um projeto nacional no sentido de que todas as obras terão um padrão só. Nossa meta é que todos os projetos tenham o mesmo padrão de programas internacionais. (Valderez Caetano)