Título: O drama tucano
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 02/05/2005, O Globo, p. 2

À medida que as eleições presidenciais se aproximam aumenta a inquietação no PSDB. Dirigentes tucanos estão aflitos com os resultados de pesquisas regionais sobre o desempenho de seus principais candidatos, Geraldo Alckmin e Aécio Neves. E passaram a estimular outras candidaturas na oposição, como as do prefeito Cesar Maia (PFL) e do ex-governador Anthony Garotinho (PMDB).

O ditado popular ¿se ficar o bicho come, se correr o bicho pega¿ explica o dilema eleitoral do PSDB. Analisadas as séries históricas de várias pesquisas de intenção de voto, alguns tucanos concluíram que, num quadro de normalidade, as candidaturas de Alckmin ou de Aécio ¿ mais a de Cesar Maia ¿ não são suficientes para levar as eleições presidenciais para o segundo turno.

Foi basicamente por esta razão que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se encontrou com Garotinho recentemente. No atual quadro, o PSDB precisa da candidatura de Garotinho para levar as eleições para o segundo turno. Mas se isso ocorrer, os tucanos correm o risco de ficar de fora da revanche, pois as pesquisas indicam que Garotinho, bafejado pelas candidaturas estaduais do PMDB, supera os dois governadores tucanos. Nesse caso, o PSDB teria que fazer uma escolha difícil e embaraçosa: apoiar Garotinho e sua pregação contra a política econômica, ou a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Por isso, muitos tucanos acreditam que o prefeito de São Paulo, José Serra, sofrerá intensas pressões para disputar a Presidência da República pela segunda vez. As pesquisas mostram que ele é o tucano melhor posicionado e, neste momento, o único capaz de garantir a presença do PSDB no segundo turno. Nestas circunstâncias, até adversários de Serra entre os tucanos poderiam ficar ao seu lado, garantindo à sua candidatura o apoio interno que não teve em 2002. Mas esta opção implica em riscos, pois os tucanos terão de administrar o custo de entregar nas mãos do PFL a prefeitura e o governo de São Paulo (caso Alckmin concorra ao Senado).

Os aliados de Serra se entusiasmam com esta possibilidade, mas se movimentam com cautela. Avaliam que uma nova candidatura de Serra só terá êxito se surgir naturalmente. Seu nome precisa ser visto como uma solução para todos. Avançar o sinal seria danoso, na medida em que seria interpretada como uma manobra para esvaziar os esforços de Alckmin e Aécio Neves para chegar lá.

Pressão sobre a área econômica para ampliar os gastos em 2006. De olho nas eleições, a Casa Civil, que coordena as ações de governo, quer mais R$ 8,4 bilhões para investimento.