Título: Ensaio dos tucanos
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 03/05/2005, Panorama Político, p. 2

Não é apenas para escolher seu candidato anti-Lula que os tucanos enfrentam dificuldades. A construção do discurso de campanha também é um desafio, pois não poderão atacar frontalmente os fundamentos da política econômica, na essência continuísta. Voltando suas baterias contra o próprio Lula, o partido vem se fixando na denúncia do aumento do gasto público e da carga tributária. Faz parte deste ensaio para a campanha a festa de amanhã pelos cinco anos de sanção da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Organizado pelo presidente do Instituto Teotônio Vilela, Sebastião Madeira, o encontro terá a presença de Fernando Henrique (que tratou do tema em sua coluna de domingo no GLOBO e fará a conferência principal), dos governadores Alckmin e Aécio Neves, do prefeito José Serra, de líderes e dirigentes.

¿ Nosso objetivo é lembrar que esta lei, aprovada no segundo mandato de Fernando Henrique, teve o voto contrário do PT, que hoje diz cultuá-la mas na prática vive tentando driblá-la ¿ diz Madeira.

Nas últimas semanas os tucanos intensificaram as críticas ao aumento de gastos, principalmente com pessoal. Aécio, por exemplo, destaca o fato de que em 2002 o gasto com pessoal equivalia a 6,2% do total de investimentos, saltando em 2004 para 10 vezes o valor do investimento anual. Parte deste aumento ele atribui ao excesso de cargos de confiança. Para este ano o governo prevê um investimento de R$12,4 bilhões (0,63% do PIB), contra um gasto de R$98,1 bilhões com a folha de pessoal ( 5% do PIB). Tem justificado o crescimento dos gastos com pessoal como decorrência de sua política de valorização dos servidores, assegurando que ela não afeta o rigor fiscal.

Mas esta é uma das bandeiras dos tucanos e ela bem se casa com a lembrança da lei, uma das marcas mais positivas do governo passado, para estabelecer diferenças com o governo Lula.

Não se trata, diz o primeiro vice-líder Eduardo Paes, de brigar pela paternidade da lei mas de mostrar que ela mudou a face da administração pública brasileira e foi absorvida pela cultura política nacional. O PT foi contra, alegou até sua inconstitucionalidade no STF e hoje diz cultuá-la.

¿ Mas só teoricamente, pois apesar dos esforços do doutor Palocci, são imensas as pressões pelo aumento leviano do gasto público. Coisas absurdas têm acontecido. Já em São Paulo, Serra herdou um caos financeiro mas em nenhum momento insurgiu-se contra os rigores da lei. Agora, na campanha e sempre, vamos defender este patrimônio, que não é mais nosso, mas da sociedade brasileira ¿ diz ele.

A outra linha do discurso tucano, que vem sendo até melhor explorada pelo PFL, diz respeito ao aumento da carga tributária. Mas nesta área, eles têm um ponto fraco: foi no governo passado que ela cresceu dez pontos percentuais em relação ao PIB, embora no governo Lula tenha crescido também.

Aliás, os tucanos serão os donos da festa mas planejam um ato mais amplo da oposição. Convidaram luminares do PFL, como Bornhausen, Rodrigo Maia, José Carlos Aleluia; e do PMDB de oposição, como Moreira Franco e Geddel Vieira Lima. Todas as viúvas poderão matar as saudades de FH.

A Lei de Responsabilidade Fiscal disciplina o gasto público, exigindo previsão orçamentária para cada despesa, limita gastos com pessoal e fixa teto para o endividamento de estados e municípios, entre outras providências.