Título: METAS MUDAM DA MANHÃ PARA A NOITE
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 03/05/2005, O País, p. 3

Lula diz no rádio que América do Sul é prioridade e em festa afirma que são os EUA

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Em dois momentos ao longo do dia ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva expôs visões conflitantes sobre suas prioridades para as relações comerciais no continente americano. De manhã, em seu programa quinzenal de rádio, o presidente anunciou como prioridade fortalecer as relações com os demais países da América do Sul, a fim de depender menos do comércio com os Estados Unidos e da União Européia. À noite, na festa do aniversário de cinco anos do jornal ¿Valor Econômico¿, em São Paulo, Lula informou que sua atual meta é estreitar os laços com os EUA:

¿ Precisamos agora nos dedicar um pouco mais a fazer com que seja fortalecida nossa relação com os EUA no âmbito comercial ¿ disse o presidente na festa.

De acordo com Lula, os EUA e a União Européia são os ¿noivos¿ que todo país emergente gostaria de ter, por serem os mais ricos do mundo. Os EUA são hoje o maior parceiro comercial do Brasil, responsáveis pelo escoamento de 20% das exportações brasileiras. Nos dois primeiros anos de seu governo, Lula se dedicou a ampliar o leque de parceiros do Brasil, fortalecendo as relações com a América Latina, o Oriente Médio e a África. Segundo Lula, a busca de novos mercados não significa um distanciamento em relação aos EUA e muito menos uma afronta:

¿ Não queremos nos afrontar com os americanos. Não sou louco. O que nós queremos é tratar os americanos do jeito que eles nos tratam para tentar levar o jogo pelo menos para um empate e não ficar tomando de goleada como temos tomado até hoje.

No programa de rádio, Lula havia dito que o Brasil está trabalhando para fortalecer os demais países da América do Sul e que assim o país dependerá menos das relações comerciais com Estados Unidos e União Européia. Lula afirmou que o Brasil, como maior economia da região, tem a obrigação de liderar esse processo de integração.

¿ O Brasil não abrirá mão de cumprir o seu papel nessa integração. Como maior economia, como maior população, como país de maior potencial científico e tecnológico, temos obrigação de estar dando condições para que esse crescimento não se dê apenas dentro do Brasil, mas para que ele se dê, sobretudo, nos países que fazem fronteira conosco ¿ disse.

O governo brasileiro reagiu com espanto e perplexidade à informação divulgada ontem no jornal ¿Clarín¿ de que a Argentina teria decidido endurecer suas relações com o Brasil. Segundo fontes do Palácio do Planalto e do Itamaraty, essa possibilidade causou surpresa, tendo em vista que nunca as relações entre os dois principais parceiros do Mercosul foram tão boas. No Planalto, a avaliação era de que não seria o caso de entrar em contato com integrantes do governo argentino para pedir explicações.