Título: NO FRONT NORTE: PRESIDENTE E LÍDERES SINDICAIS SÃO HOSTILIZADOS POR OPERÁRIOS DA VOLKSWAGEN EM SÃO BERNARDO
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 03/05/2005, O País, p. 5

Lula sugere comitiva para se queixar do dólar nos EUA

`Todo empresário sabe que o câmbio tem um problema com a política americana¿, disse ele, ao ouvir cobranças

SÃO PAULO. Cobrado por trabalhadores, sindicalistas e empresários para reforçar políticas de geração de emprego e de fomento à indústria automobilística, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao discursar em visita à Volkswagen ontem, em São Bernardo do Campo, disse que o dólar está em queda em relação a outras moedas do mundo por responsabilidade exclusiva dos Estados Unidos, e que por isso não cabe ao Brasil resolver o problema.

¿ A gente deveria fazer uma comitiva para se queixar da desvalorização do câmbio onde efetivamente está a razão para a desvalorização do dólar, que não é no Brasil. Todo empresário sabe que o câmbio tem um problema com a política americana, e não é um problema que possamos resolver do jeito que alguns imaginam ¿ disse Lula, que emendou:

¿ Ao mesmo tempo, com o câmbio da forma que está, salvo alguns setores da indústria brasileira, o restante continua não apenas produzindo bem, mas exportando muito bem.

Lula foi cobrado por empresário sobre ICMS

Assim que subiu ao palco, na área de montagem da fábrica, Lula foi cobrado pelo presidente da Volkswagen no Brasil, Hans Christian Maergner, em relação aos créditos de ICMS na exportação. Ao mesmo tempo que elogiou iniciativas do governador tucano Geraldo Alckmin nessa matéria, Maergner criticou a demora do governo federal e de outros estados para dar uma solução definitiva para a questão do recolhimento do imposto.

¿ Agradecemos a São Paulo pela utilização de créditos acumulados de ICMS através de um regime de exportação, vinculado a investimentos no estado. Precisamos agora de uma solução final do governo federal e de outros estados sobre o tema ¿ disse Maergner.

Ao lado de dona Marisa Letícia, Lula apenas sorriu. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, José Lopes Feijoó, exigiu do governo a implantação de uma política industrial que gere mais empregos.

¿ Há coisas positivas, mas uma de nossas reivindicações é o cumprimento das sete metas da campanha eleitoral, entre elas o fomento da política industrial ¿ disse.

À frente do mesmo sindicato controlado por Lula há mais de 20 anos, Feijoó foi, em princípio, discretamente vaiado ao ser chamado ao palco por Luiz Marinho, presidente da CUT, que foi vaiado e xingado três vezes.

Embora aplaudido ao chegar na fábrica, Lula não escapou de protestos isolados de trabalhadores. Duas faixas com os dizeres ¿Não há reforma tributária e trabalhista que retire direitos¿ e ¿Salário não é renda, 64% já de correção do IR¿ foram levantadas no instante em que o presidente discursava. Alguns metalúrgicos ensaiavam timidamente o seguinte refrão: ¿Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão¿. Lula não se intimidou e chegou a arrancar aplausos e gargalhadas ao rebater:

¿ Estou feliz quando a gente percebe que consolidamos um processo democrático tão extraordinário que os nossos companheiros trabalhadores podem participar do ato, até levantando faixas que, muitas vezes, precisam ser enxergadas por todos nós.