Título: ENTIDADES DEFENDEM LIBERDADE DE IMPRENSA
Autor:
Fonte: O Globo, 03/05/2005, O País, p. 8

ANJ condena iniciativa do governo da Venezuela de controlar a mídia

A defesa de um jornalismo livre e ético marcou todas as palestras do IV Encontro Regional sobre Liberdade de Imprensa, realizado ontem no Rio de Janeiro. O tema do encontro, que visa a divulgar a Rede de Defesa da Liberdade de Imprensa em todo o país, foi "As responsabilidades e os interesses dos jornalistas e das fontes". A rede é uma iniciativa da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Jornalismo vinculado aos interesses do cidadão

Fernando Martins, diretor executivo da ANJ, representou o presidente da entidade, Nelson Sirotsky, lendo um discurso em que este afirma que a associação "defende um jornalismo cada vez mais vinculado aos interesses objetivos do cidadão. Um jornalismo que não pretende denunciar problemas, mas apontar soluções e mobilizar a sociedade na busca destas soluções". Durante o evento, a associação divulgou nota condenando a iniciativa do governo da Venezuela de criar uma lei que controla conteúdos, horários e programas de rádio e televisão. A ANJ também condenou a prisão da jornalista Patrícia Poleo, editora do "El Nuevo País", jornal de oposição ao governo de Hugo Chávez.

¿ São exemplos lamentáveis, que provocam temor e justificam nossa permanente vigilância contra toda e qualquer ação que vá contra o sagrado direito do cidadão de ser informado livremente ¿ disse Martins.

O representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, adiantou a mensagem do diretor-geral da organização, Koichiro Matsuura, a propósito do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, comemorado hoje. "Os meios de comunicação independentes, livres e pluralistas têm papel fundamental no bom governo das sociedades democráticas, assegurando transparência e responsabilidade", diz a nota.

Em seu discurso, Werthein citou Rui Barbosa:

¿ Um país de imprensa degenerada ou degenerescente é, portanto, um país cego e um país miasmado, um país de idéias falsas e sentimentos pervertidos, um país que, explorado na sua consciência, não poderá lutar com os vícios que lhe exploram as instituições.

Jornalista do GLOBO e um dos responsáveis pela criação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), da qual é vice-presidente, Chico Otavio alertou, em sua palestra, para o perigo que representa para a liberdade de imprensa a chamada indústria do dano moral. Se é um direito de qualquer cidadão buscar na Justiça o reparo pelo dano causado à sua imagem pela mídia, "o que está acontecendo hoje, no Brasil, é o uso abusivo deste direito".

O vice-governador do Estado do Rio, Luiz Paulo Conde, representou a governadora Rosinha Garotinho. Ele enumerou questões sobre a responsabilidade do jornalista e saudou a criação da Abraji:

¿ O ideal é que todos os jornalistas fossem investigativos ¿ disse Conde.

O encontro foi realizado pela ANJ e pela Unesco, com apoio dos jornais "Folha Dirigida", "Jornal do Commercio", "O Dia" e O GLOBO. A mesa de abertura contou com as presenças de Fernando Martins; Jorge Werthein; Luiz Paulo Conde; Patrícia Mosé, secretaria extraordinária de Imprensa do governo do Espírito Santo; Afonso Faria, diretor de promoções e relações externas do Grupo Folha Dirigida; Jairo Paraguassú, diretor comercial do "Jornal do Commercio"; Alexandre Freeland, editor-chefe de "O Dia"; e José Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo.

Chico Otavio mediou um debate entre Carlos Alberto di Franco, diretor do master em jornalismo da Universidade de Navarra, na Espanha; Alexandre Freeland; o desembargador Luis Felipe Salomão, presidente da Escola Nacional de Magistratura; e Lucianne Carneiro, repórter de economia do "Jornal do Commercio". O debate contou com perguntas da platéia.

O próximo evento da Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa será no dia 8 do mês que vem, em Brasília. O site da rede é www.liberdadedeimprensa.org.br