Título: PRESSIONADO, GOVERNO VAI REVER CARTILHA DO BOM-TOM
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 03/05/2005, O País, p. 11

Secretário de Direitos Humanos alega que não foi autoritário ao publicar glossário de palavras a serem evitadas

BRASÍLIA. Diante das críticas e da repercussão negativa da cartilha ¿Politicamente correto¿, a Secretaria Especial de Direitos Humanos decidiu enviar o texto para revisão. O ministro Nilmário Miranda admitiu mudar o conteúdo da publicação, que causou polêmica por desaconselhar o uso de palavras como palhaço, comunista, negro e barbeiro, consideradas pejorativas. A edição da cartilha foi revelada pelo GLOBO no sábado.

Nilmário afirmou que a cartilha foi publicada para fazer as pessoas refletirem sobre expressões do dia-a-dia. O ministro disse que sua secretaria jamais editaria um texto autoritário.

¿ Não há nada de autoritário na decisão do governo de publicar a cartilha. É um texto educativo. Não vai ser transformado em lei ¿ disse.

A revisão será feita pelo Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Serão levadas em conta sugestões e críticas publicadas na imprensa nos últimos dias.

Idealizador do glossário quer incentivar a reflexão

A idéia de lançar o livro foi do subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da secretaria, Perly Cipriano. Ontem, ele disse que o objetivo da cartilha não é normatizar nada:

¿ Ninguém do governo quer determinar o que se deve fazer ou dizer. Não vamos ficar vigiando ninguém. Há necessidade de refletir sobre expressões usadas no cotidiano. Se tiver alguma palavra que não esteja plenamente aceita, será revista ¿ disse Cipriano, que não informou o valor gasto com a publicação de cinco mil exemplares do glossário, distribuído a jornalistas, policiais e profissionais da área de direitos humanos.

Na cartilha, foram incluídas expressões como ¿a coisa ficou preta¿, ¿mulher no volante, perigo constante¿, ¿branquelo¿, ¿aidético¿, ¿sapatão¿, ¿bêbado¿ e até ¿comunista¿. Ao todo, o glossário tem 96 termos, expressões e piadas consideradas pejorativas. Ele foi elaborado numa parceria da secretaria com a Fundação Universitária de Brasília, que contratou o jornalista Antônio Carlos Queiroz para produzir o texto. Queiroz disse que ouviu profissionais ligados a ONGs e pessoas que trabalham na Secretaria Especial de Direitos Humanos:

¿ Ninguém precisa concordar com o que está no livro. Não é uma coisa impositiva. É uma primeira tentativa e é bom que suscite polêmica. Não queríamos que saísse algo que não se discuta.

Palhaços não gostam quando profissão vira ofensa

Queiroz é vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal e disse ter recebido R$5 mil para preparar a cartilha. Ele justificou a inclusão de algumas palavras e disse, por exemplo, que várias pessoas que trabalham como palhaço não gostam de ver sua profissão relacionada a pessoas pouco sérias.