Título: CHACINA TEM UMA TESTEMUNHA-CHAVE
Autor: Vera Araújo
Fonte: O Globo, 03/05/2005, Rio, p. 19

De acordo com depoimento, PMs mataram para afrontar comandantes

O depoimento de uma testemunha-chave que acompanhou o planejamento da chacina da Baixada, na qual 29 pessoas foram assassinadas, revelou o verdadeiro motivo do massacre: o grupo pretendia desestabilizar o comando da PM na Baixada, formado por oficiais oriundos da corregedoria da corporação. A testemunha prestou depoimento na noite de sexta-feira aos delegados que investigam o caso. Ela disse ter ouvido de quatro PMs que estavam num bar em Nova Iguaçu, onde foi planejado o crime, que o objetivo deles era demarcar território.

¿ A idéia era mostrar quem mandava na Baixada ¿ comentou um dos investigadores do caso.

A testemunha também contou que o cabo Marcos Siqueira Costa, do 20º BPM (Mesquita), logo depois de saber que a polícia estava começando a prender os acusados pelo massacre, trocou o cano de sua pistola 380, usada para cometer os crimes. A testemunha disse ainda que o cabo chegou a pedir o carro dela emprestado, por ter quatro portas. O pedido, no entanto, foi negado. O grupo então pediu emprestado um Gol prata, onde já foram encontradas manchas de sangue das vítimas.

O grupo era formado por Siqueira, pelo cabo José Augusto Moreira Felipe, do 24º BPM (Queimados), e pelos soldados Carlos Jorge Carvalho, do 20º BPM (Mesquita), e Júlio César Amaral de Paula, do 3º BPM (Méier).

A polícia chegou à testemunha-chave devido a outro crime. Policiais rastrearam o celular usado no seqüestro de uma mulher em Barra Mansa. O bandido sempre se comunicava por um celular cujo dono é a testemunha, que disse ter emprestado o aparelho a Siqueira.

Apreendidos cheques e celulares roubados

Ontem, o delegado da 58ª DP (Posse), Roberto Cardoso, encontrou na casa do cunhado do cabo Gilmar da Silva Simão, do 3º BPM (Méier), amigo de Siqueira, dois talões de cheques e dois celulares roubados. Segundo o cunhado, o material foi entregue por Simão, que pediu para escondê-lo.

Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) estão fazendo exames de confronto balístico para descobrir se dois dos suspeitos de participarem na chacina da Baixada estão envolvidos na morte do estudante Rodrigo Coimbra de Figueiredo, em Japeri, em 19 de março. O crime aconteceu 12 dias antes da chacina de 29 pessoas em Nova Iguaçu e Queimados.

O cabo José Augusto Gomes Felipe e o soldado Fabiano Gonçalves Lopes, ambos lotados no Serviço Reservado do 24º BPM, são suspeitos de terem confundido o estudante de 17 anos com um traficante.

O delegado Roberto Martins, da 63ª DP (Japeri), contou que a dupla, numa motocicleta, teria atirado oito vezes contra o rapaz, no bairro de Citrópolis. Martins espera o resultado dos exames para pedir a prisão da dupla.