Título: A viagem do medo
Autor: Ronaldo Braga
Fonte: O Globo, 04/05/2005, Rio, p. 12

Aviolência na Rodovia Washington Luiz (Rio-Petrópolis) não dá trégua aos motoristas. Nas duas últimas semanas, ocorreram pelo menos 12 ataques de bandidos, dois deles contra uma mesma vítima. Além de atingir os veículos com pedras e de fechá-los para obrigar os motoristas a pararem, os assaltantes agora também estão obstruindo a pista com pedaços de concreto e paralelepípedos.

Desde setembro do ano passado, usuários vêm denunciando os crimes à polícia. Um dos últimos casos aconteceu na sexta-feira passada, por volta de 22h, com o empresário C., morador de Petrópolis. Ele estava na pista sentido Rio, na descida da serra, quando, logo após o Belvedere, viu a estrada coberta de entulho. Para escapar, ele teve que passar por cima dos obstáculos e um dos pneus furou. Mesmo assim, C. acelerou o carro e logo criminosos num Gol emparelharam com seu carro, tentando fechá-lo para tirá-lo da estrada. Na altura de Caxias, no entanto, eles acabaram desistindo.

¿ Eles (os criminosos) quebraram os marcadores de quilômetros da estrada (pinos de concreto) e, juntamente com paralelepípedos, montaram uma barricada na pista. Minha esposa, com medo, pedia para eu acelerar e não parar ¿ contou ele.

Bando atirou pedras contra veículos

Seis dias antes, no dia 23, o empresário já fora vítima de um ataque, também na descida da serra. Logo depois do pedágio, por volta de 19h, bandidos jogaram pedras contra o pára-brisa do seu carro e de outros veículos.

¿ Tive sorte. Um pedregulho do tamanho de um paralelepípedo foi arremessado contra o meu carro. Apesar de estar a 90 quilômetros por hora, consegui fazer uma manobra brusca e evitar o pior. A pedra passou a centímetros do carro ¿ lembrou C.

Segundo ele, no entanto, um motorista à sua frente não conseguiu escapar dos marginais. Ao passar por um carro com o pára-brisa estilhaçado, ele viu criminosos armados saqueando os ocupantes do veículo, onde havia crianças.

¿ Segui em direção ao Rio apavorado, tentando contato pelo celular com o 190 da PM, mas depois de 20 minutos desisti ¿ contou C.

Também na sexta-feira passada, por volta de 20h30m, o professor Marcos Nóbrega, da PUC de Petrópolis, foi testemunha de um ataque. Ele estava na subida da serra quando viu um carro ser fechado por outro, ocupado por homens armados.

¿ Um veículo em alta velocidade me ultrapassou pela direita, tomou minha dianteira e, logo em seguida, foi novamente para a direita, fechando um outro carro ¿ contou Marcos. ¿ A distância, vi dois homens saindo com armas em punho. Fico imaginando a situação daquele pobre infeliz, vítima de assalto ou seqüestro relâmpago. A escuridão não me permitiu ver muita coisa, a não ser vultos.

Para Marcos, a insegurança aumentou na rodovia.

¿ Passo há 20 anos na Rio-Petrópolis. São oito assaltos ou seqüestros relâmpagos por dia. A situação afasta turistas e isso vai empobrecendo Petrópolis ¿ disse ele. ¿ Minha indignação é com as autoridades policiais. Se todos sabem onde ocorrem os assaltos e como são praticados, por que não dão um basta no problema?

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que vem fazendo operações na região com o objetivo de diminuir a criminalidade.

¿ São áreas de risco. Sabemos disso e estamos fazendo o possível. Nosso Centro de Inteligência está realizando um levantamento dos pontos perigosos ¿ disse Hélio Dias, assessor da PRF.

Segundo ele, a Washington Luiz é um verdadeiro queijo suíço.

¿ Há várias entradas e saídas. Estamos fazendo agora a Operação Metropolitana II. Na primeira, na Via Dutra, semana passada, prendemos homens armados ¿ disse ele.

Segundo a PRF, o trecho Rio-Petrópolis conta atualmente com 60 patrulheiros. Ontem, um posto móvel, em frente à entrada para Xerém, estava trancado com cadeado. Os postos fixos são antigos e já foi aprovado o projeto de uma nova unidade no Belvedere. A prefeitura de Petrópolis informou que as obras começarão na segunda-feira. A localização é considerada estratégica pelos patrulheiros, já que permite acesso rápido tanto à pista de subida quanto à de descida da serra.

Em dezembro passado, o prefeito Rubens Bomtempo pediu ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que reforçasse o efetivo de patrulheiros na região. Segundo a prefeitura, apesar de a estrada ser federal e estar sob gestão da Concer, Bomtempo está preocupado com os assaltos aos motoristas. A concessionária informou que vai implantar uma nova iluminação a partir de 20 de maio nos trechos mais perigosos da estrada. Segundo a Concer, a segurança na Rio-Petrópolis é de responsabilidade da Polícia Rodoviária Federal.