Título: ENFERMEIRA FALA DOS ÚLTIMOS DIAS DE VIDA DE HITLER
Autor:
Fonte: O Globo, 03/05/2005, O Mundo, p. 29

Aos 93 anos, Erna Flegel rompe silêncio de seis décadas

LONDRES. À medida que as forças aliadas fechavam o cerco sobre Berlim, em abril de 1945, Adolf Hitler se transformava num homem fraco, debilitado, que aparentava pelo menos 15 anos a mais do que tinha. Rompendo um silêncio de 60 anos, uma enfermeira da Cruz Vermelha que acompanhou os últimos momentos de vida do ditador e de seus colaboradores mais próximos falou pela primeira vez sobre o assunto numa entrevista publicada hoje pelo jornal britânico ¿The Guardian¿.

¿Em seus últimos dias de vida¿, contou Erna Flegel, de 93 anos, ¿Hitler apareceu com muitos cabelos brancos e dava a impressão de ser 15 ou 20 anos mais velho.¿ De acordo com a enfermeira, que hoje vive num asilo no norte da Alemanha, ¿ele tremia e caminhava com dificuldade e seu lado direito estava muito debilitado em razão da tentativa de assassinato (Hitler foi vítima de um atentado em julho de 1944)¿.

Até hoje, a enfermeira havia falado muito pouco sobre sua experiência. O jornal britânico contou que sua existência só foi revelada depois que uma entrevista feita por investigadores americanos e que constava dos arquivos secretos foi divulgada pela CIA há quatro anos.

Erna contou que à medida que o cerco a Berlim ia se fechando, o grupo que permanecia no bunker do ditador foi-se reduzindo. ¿Todos perderam as pretensões¿, disse. Quando sua derrota era iminente, Hitler se suicidou com um tiro. A amante do ditador, Eva Braun, com quem ele se casou pouco antes de morrer, matou-se ingerindo ácido. A enfermeira contou na entrevista que não chegou a ver os corpos.

Hitler se despediu da equipe antes de se matar

Ela lembrou, entretanto, que poucas horas antes de se matar, em 30 de abril de 1945, Hitler se despediu de toda a equipe médica. ¿Ele saiu de um quarto lateral, estendeu a mão a todos, disse algumas palavras amistosas e isso foi tudo¿, contou.

Erna se referiu com desdém a Eva Braun. Segundo Erna, ela tinha uma personalidade ¿totalmente anódina¿ e sua morte teria sido menos sentida pelo grupo que a do cachorro que os acompanhava.

Em contrapartida, a enfermeira descreveu Magda Goebbels, mulher do ministro da Propaganda do Terceiro Reich, Joseph Goebbels, como ¿uma pessoa brilhante, com muito mais nível do que muita gente¿.

Na entrevista Erna assegura ter tentado persuadir Magda a não deixar que seu marido matasse os seis filhos do casal. Goebbels envenenou os filhos depois da morte de Hitler. ¿Eu queria tirar da cidade (Berlim) pelo menos um deles¿, contou Erna. Mas Magda se recusou, lembra a enfermeira, dizendo: ¿Eu pertenço a meu marido e meus filhos me pertencem.¿