Título: Sul e NE: pobres cidades afortunadas
Autor: Flávia Oliveira e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 04/05/2005, Economia, p. 28

A cidade de São Francisco do Conde, a 66 quilômetros de Salvador, apontada como detentora da maior renda per capita do país, vive um paradoxo. Tem uma grande arrecadação, de aproximadamente R$ 10 milhões, a terceira maior do estado da Bahia, originária do ICMS produzido pela refinaria Landulpho Alves, da Petrobras, que não se traduz em qualidade de vida para a maioria da sua população, formada por 26,3 mil habitantes, segundo o último censo, de 2000. A cidade é a 2.735 no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), entre os 5.560 municípios brasileiros.

A exemplo da maioria das cidades baianas, a prefeitura é o principal empregador e gerador de renda local. O historiador Marivaldo Amaral, morador de São Francisco do Conde, diz que ¿um clientelismo vicioso constitui um traço da cultura local¿.

¿ Se morre alguém, a prefeitura paga do caixão às flores; se é festa de aniversário, é o município que paga o bolo.

Marivaldo define a refinaria como ¿um corpo estranho¿ no município, já que os postos de trabalho gerados por ela não chegam à população local.

¿ Não temos mão de obra suficientemente qualificada para atender ao nível de exigência ¿ constata.

Em Triunfo, só empregos pouco qualificados

Já Triunfo, a 78 quilômetros de Porto Alegre, a segunda cidade do país com a maior renda per capita, detém essa posição há anos pelo fato de sediar o Pólo Petroquímico de Triunfo, mas ainda está longe do ideal no que se refere à qualidade de vida. Embora seja sede do pólo, somente emprega ali faxineiras, seguranças, carregadores e pessoal de apoio, por meio de empresas terceirizadas. No pólo propriamente dito não há mais do que 20 dos mais de 7 mil funcionários, lamenta o prefeito José Ezequiel Meireles de Souza.

¿ Quando o pólo foi inaugurado, no início dos anos 80, esqueceram-se de Triunfo. Mas mantemos a esperança de oportunidades maiores. Por isso, sempre que surge a oportunidade de empregos especializados no pólo, a própria prefeitura paga o treinamento dos profissionais, desde que sejam de Triunfo ¿ revela o prefeito.

José Ezequiel diz ainda que há um grande número de desempregados, faltam oportunidades de bons empregos e ainda há uma parcela significativa da população com empregos secundários.

A queda de Porto Alegre no ranking dos maiores PIBs do país, por sua vez, não foi surpresa para o coordenador do núcleo de contas da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE), Juarez Meneghetti, que coordenou o levantamento dos dados do estado que ajudaram a compor a pesquisa do IBGE.

A área industrial, segundo ele, ressentiu-se da perda de participação de um grande grupo industrial com sede na capital e da fuga de capitais para cidades vizinhas, particularmente em decorrência da instalação da fábrica da GM em Gravataí, a 40 quilômetros de distância. Já o segmento de serviços é afetado pela guerra fiscal promovida por outras cidades da região.

Vitória surpreende comalto PIB per capita

Vitória teve o maior PIB per capita entre as 27 capitais brasileiras: R$ 22.269. Lucas Izoton e João Brumatti são empresários bem-sucedidos e contribuíram para esse resultado. Mas moram em outro município. E como os dois empresários, que são de Vila Velha, uma legião de trabalhadores bate o ponto, produz riqueza na capital e volta para casa em outra cidade.

Segundo a Federação das Indústrias do Estado, a Findes, Vitória abriga 60 das 150 maiores empresas capixabas, o que ajuda a explicar a concentração de riqueza na capital, que também responde por 19% do consumo do estado.