Título: EUA elevam juro e Brasil tem dólar a R$ 2,493
Autor: Patricia Eloy*
Fonte: O Globo, 04/05/2005, Economia, p. 32
As autoridades monetárias do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) elevaram ontem a taxa básica de juros do país em 0,25 ponto percentual, para 3%. Esta é a oitava vez seguida que o Fed aumenta os juros, mas em todas elas o ritmo da alta foi moderado. No Brasil, a manutenção no ritmo moderado de elevação dos juros nos EUA, a forte queda na cotação do petróleo e o fôlego contínuo demonstrado pela balança comercial fizeram o dólar fechar, pela primeira vez em quase três anos, abaixo dos R$ 2,50. A moeda americana fechou na mínima do dia: R$ 2,493, em queda de 0,72%. É o menor nível desde 21 de maio de 2002 (R$ 2,482).
A queda fez circular rumores de que o Banco Central (BC) poderia voltar a comprar moeda no mercado, para aproveitar o baixo patamar de preços. No entanto, no fim do dia, o BC informou ao mercado que, pela oitava semana consecutiva, não fará hoje o tradicional leilão de swap cambial, que funciona como uma compra de dólares no mercado futuro. Desde o dia 16 de março o BC também não atua no mercado à vista.
Para Sérgio Goldenstein, estrategista da ARX Capital e ex-chefe do Departamento de Operações do Mercado Aberto do BC, a autoridade monetária deve voltar a comprar dólares:
¿ Embora o BC não olhe para patamar de câmbio, acredito que em algum momento retomará a política de recomposição de reservas internacionais iniciada em dezembro do ano passado (por meio de compras de dólares no mercado à vista). Hoje temos reservas líquidas da ordem de US$ 36 bilhões, um patamar alto se comparado com o dos últimos anos, mas ainda baixo diante de outras economias emergentes. E, com reservas mais robustas, ficaremos menos vulneráveis para enfrentar as turbulências externas.
Cotação do petróleo em NY fecha abaixo dos US$ 50
Goldenstein acredita que, mesmo que o BC retome as compras de moeda, o dólar não deve se valorizar fortemente, apenas reduzir um pouco o ritmo de queda:
¿ As contas externas favoráveis garantirão o fortalecimento do real.
No mercado internacional, os investidores mostraram alívio em relação ao petróleo e ao juro americano. O risco-Brasil, indicador da confiança dos aplicadores estrangeiros no país, recuou 2,65%, para 441 pontos. O Global 40, título mais negociado da dívida externa brasileira, subiu 1,06%. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ficou estável.
O Fed, por sua vez, justificou a elevação dos juros afirmando que ainda há pressões inflacionárias no horizonte econômico dos EUA.
¿As pressões inflacionárias intensificaram-se nos últimos meses, num momento em que o poder de fixação de preços torna-se mais evidente¿, disse o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, pela sigla em inglês), em nota. A decisão de aumentar a taxa em 0,25 ponto percentual foi unânime e ficou dentro das previsões de analistas e investidores.
No mercado de petróleo, especulações sobre um grande aumento das reservas nos EUA fizeram a cotação da commodity fechar abaixo dos US$ 50 na Bolsa Mercantil de Nova York. O barril do cru leve americano para entrega em junho caiu 2,8%, para US$ 49,50. Os preços nesse mercado estão 15% abaixo do nível recorde de US$ 58,28 o barril, alcançado em 4 de abril. Na Bolsa Internacional de Petróleo, em Londres, o barril do Brent fechou ontem cotado a US$ 50,52, uma queda de 1,12%.