Título: Furlan politicamente correto
Autor: José Meirelles Passos* e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 04/05/2005, Economia, p. 32

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, provocou risos e discretos aplausos de solidariedade numa platéia formada por representantes de grandes corporações americanas, ontem, ao usar um argumento político num apelo público para que os Estados Unidos passem a importar etanol do Brasil. Aproveitando que o tema do evento de que participava, no Departamento de Estado, era a consolidação da democracia e a prosperidade na América Latina, disse:

¿ Todos os dias os Estados Unidos importam muita energia de regiões não democráticas. Isso é politicamente incorreto. Por que não importar energia limpa de uma região agradável como o Mercosul, onde também podem investir na produção dessa energia e ser donos de propriedades? ¿ perguntou, referindo-se às importações americanas de petróleo do Oriente Médio.

Pouco depois, numa reunião com o secretário do Comércio dos EUA, Carlos Gutierrez, Furlan propôs também uma parceria de ambos os países para produzir e exportar etanol para o resto do mundo, visando a princípio países como China, Japão e Rússia:

¿ Já existe nos Estados Unidos uma coalizão pró-etanol em 30 (dos 50) estados. E notei que há um grande interesse em nosso álcool e em nossa tecnologia nesse setor. Acho que vai dar jogo ¿ disse o ministro, acrescentando que Gutierrez aceitara um convite para visitar o Brasil em breve e continuar a conversar a respeito da parceria sugerida por ele.

Enquanto Furlan se esforçava nos Estados Unidos para melhorar as exportações do país, Brasil e Angola assinavam um protocolo de entendimento na área de financiamento do comércio exterior: o Brasil concederá créditos de US$ 580 milhões entre 2005 e 2007 para que a Angola compre bens e serviços nacionais. Assinado durante encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, ontem no Palácio do Planalto, o protocolo viabilizará as exportações brasileiras de aeronaves, ônibus, máquinas e equipamentos para agroindústria e veículos para a polícia, além de projetos de infra-estrutura, para aquele país.

No mesmo protocolo, os governos ajustaram o mecanismo de pagamento da dívida angolana com o Brasil, que chega a US$ 910 milhões e é garantida pelo depósito anual em conta do Banco do Brasil de valor equivalente a 20 mil barris diários de petróleo, hoje correspondente a US$ 350 milhões. A partir desse entendimento, o governo de Angola manterá sempre na conta o equivalente a US$ 150 milhões como garantia de eventuais flutuações no preço do petróleo. (*) Correspondente