Título: FUNDO MULTIMERCADO FOI O MAIS RENTÁVEL DO MÊS
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 30/04/2005, Economia, p. 37

Aplicação teve ganho de 1,28%, próximo dos investimentos em renda fixa. FGTS-Vale foi a pior, com perda de 11,25%

Os fundos multimercados foram o investimento mais rentável de abril. De acordo com dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) até o dia 26, a categoria teve rentabilidade líquida - isto é, já descontado o Imposto de Renda (IR) - de 1,28%. Já a aplicação FGTS-Vale foi a pior do mês, com perdas de 11,25%, bem acima do recuo de pouco mais de 6% da Bolsa em abril.

Apesar de os multimercados (considerados de maior risco, por aplicarem em juros, Bolsa, câmbio e títulos da dívida) terem ficado no topo do ranking, não há motivos para comemorar. Aplicações bem mais conservadoras, como fundos DI, de renda fixa e de curto prazo, tiveram rentabilidade muito próxima à dos multimercados e com um risco bem menor para os investidores. Em abril, renderam 1,19%, 1,23% e 1,17%, respectivamente. A valorização veio a reboque das altas taxas de juros - a taxa básica Selic, referência para a economia, está em 19,5% ao ano - pagas pelos títulos do governo.

Instabilidade do mercado atrapalhou rendimento

Segundo Octavio Vaz, sócio da Questus Asset Management, os multimercados já tiveram, historicamente, rendimento bem acima do registrado em abril.

- O que atrapalhou no mês foi que, apesar de os fundos conseguirem lucrar em cenários de instabilidade, abril foi um mês em que as fortes oscilações foram acompanhadas por uma grande indefinição nos mercados. A falta de tendência dificultou a administração e, embora tenham rendido mais que outros fundos, os multimercados ficaram abaixo do seu potencial - avalia Vaz.

Ele afirma que, enquanto em 2005 os fundos estão rendendo, em média, 80% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI, que corresponde ao custo de captação entre os bancos, é influenciado pela Selic e usado como referência de rentabilidade para aplicações), historicamente a categoria tem ganhos de 100% ou mais do CDI.

Paulo Veiga, sócio da Mercatto Gestão de Recursos, avalia que os gestores de fundos multimercados que lucraram em abril foram os que apostaram na queda do dólar e da Bolsa. Os fundos cambiais, que haviam sido a melhor aplicação de março, ficaram entre os piores investimentos de abril, com perdas de 3,82%. Já os fundos de ações perderam 4,76% no período. O dólar caiu 5,13% e a Bolsa recuou 6,64%.

As ações da Vale, que nos últimos meses foram as grandes estrelas do mercado, desapontaram investidores e caíram fortemente, causando o péssimo resultado do FGTS-Vale.

- Os investidores estrangeiros sacaram o que tinham aplicado em Bolsa para garantir o lucro que haviam tido até então. O problema é que a maior parte dos investidores havia lucrado em papéis de empresas de siderurgia e mineração, como é o caso da Vale. Além disso, eram justamente as ações destes setores que vinham sustentando a alta da Bolsa. Diante das fortes vendas, o mercado não resistiu e a aplicação em ações deu prejuízo - diz Octavio Vaz.

Caderneta de poupança perdeu da inflação em abril

Já o FGTS-Petrobras caiu 3,88% no período. Ambas as aplicações perderam feio da tradicional poupança. As cadernetas com aniversário ontem renderam 0,70%. O desempenho, porém, ficou abaixo da inflação - o IPCA-15 ficou em 0,74% em abril.

Para Paulo Veiga, a resistência demonstrada pela inflação nos últimos meses pode significar que os juros básicos permanecerão altos a curto e médio prazos. A notícia é boa para quem aplica em fundos DI, de renda fixa e curto prazo.

- Se o mercado continuar instável e os investidores, arredios, aplicações conservadoras poderão continuar tendo ganhos superiores ao das aplicações mais arriscadas - acredita Veiga.