Título: QUEDA-DE-BRAÇO NUCLEAR NA ONU
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 02/05/2005, O Mundo, p. 19

Estratégia de países fora do clube atômico é cobrar de potências redução de arsenais

Com cartazes de ¿Não ao nuclear¿ e ¿Pela paz¿, cerca de dez mil manifestantes protestaram ontem em Manhattan contra a política do presidente George W. Bush, antecipando o início das tensas discussões sobre o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, que começam hoje na ONU, numa conferência internacional que reunirá representantes de 187 países.

¿ A reunião será um sucesso se conseguir fortalecer os termos do acordo de forma equilibrada. Será um fracasso se a preocupação de alguns países com a segurança prevalecer ¿ diz a conselheira Lucia Maieira, uma das representantes do Brasil na conferência, que será presidida pelo diplomata brasileiro Sergio Duarte.

Os manifestantes assim como os representantes dos países não-nucleares, como o Brasil, pretendem usar a conferência para cobrar das potências nucleares ¿ Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China ¿ os compromissos de redução de seus arsenais, enquanto os Estados Unidos só querem discutir ameaças à segurança internacional.

A reunião é parte da agenda internacional que prevê a cada cinco anos a revisão do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares e um levantamento de como os países estão cumprindo suas obrigações. Todos concordam que é fundamental reduzir as brechas do tratado, mais evidentes depois que a Coréia do Norte avisou em 2003 que não era mais signatária do acordo.

Brasil defende direito de energia para fim pacífico

A proposta do presidente da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed ElBaradei, de uma moratória de cinco anos para todo novo enriquecimento de urânio e reprocessamento do plutônio deve ser apresentada na conferência, mas já nasce sem sucesso pois tem a oposição de países tão diferentes quanto a França e o Irã.

O governo Bush está enviando uma delegação de médio escalão para evitar cobranças da comunidade internacional, numa clara demonstração de que não dá importância à possibilidade de se criar um novo consenso sobre a questão. E aposta num grupo menor, o Nuclear Suppliers Group (grupo de fornecedores nucleares, de países que detém tecnologia atômica, não necessariamente bélica), que poderia embargar a venda de equipamentos nucleares a países como Coréia do Norte e Irã.

Para a delegação brasileira, chefiada pelo embaixador Ronaldo Sardenberg, é importante que países que estão cumprindo seus compromissos não sejam cerceados no seu direito de usar a tecnologia para fins pacíficos.

¿ O Brasil fica na mira pelo fato de ter tecnologia própria, mas queremos que nossos direitos sejam respeitados ¿ diz Lucia, referindo-se à recente tensão entre o Brasil e a AIEA.

A poucas horas do início da conferência, a Coréia do Norte e o Irã subiram o tom de suas respostas às acusações do governo americano de que eles usaram as brechas do acordo internacional para construir armas nucleares, deixando os especialistas céticos sobre as possibilidades de aperfeiçoamento no tratado internacional.